A ministra está em Roraima desde o último sábado (4) para acompanhar a crise sanitária e humanitária que o povo Yanomami enfrenta devido ao avanço do garimpo ilegal Guajajara anunciou as medidas que o governo federal vai adotar para conter a crise
G1 – “O que está sendo noticiado ainda está longe de mostrar a realidade com essa presença tão forte de garimpeiros com uma grande destruição do território, é muito garimpo, é garimpo infinito”. Esta foi a declaração da ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara após visitar a Terra Indígena Yanomami nessa segunda-feira (6).
A ministra está em Roraima desde o último sábado (4) para acompanhar a crise sanitária e humanitária que o povo Yanomami enfrenta devido ao avanço do garimpo ilegal. Após sobrevoar o território, ela concedeu uma entrevista em uma coletiva de imprensa.
“Os Yanomami não tem como beber água, não tem água limpa para beber e com quem a gente conversou ali eles imploraram que eles querem limpar aquela água, eles querem água para beber, não tem. As condições sanitárias, de higiene totalmente precárias. Há comunidades que você não consegue mais discernir o que é a comunidade indígena e o que é garimpo porque as vilas de garimpo estão maiores que a comunidade.”
Guajajara chegou no domingo à base Surucucu, dentro da terra indígena, onde acompanhou as missões promovidas para levar assistência médica de emergência e suprimentos aos indígenas. Na segunda, ela visitou comunidades no entorno.
Além de avaliar a situação da Terra Yanomami, Sonia Guajajara anunciou as medidas que o governo federal deve adotar para conter a crise. Entre elas está a construção do Hospital de Campanha dentro do território, para evitar remoções para Boa Vista, uma medida adiantada por Lula em visita ao estado em janeiro deste ano.
No entanto, a construção do hospital depende das condições climáticas reforma da pista de pouso que dá acesso ao polo base de Surucucu, unidade referência em saúde do território. Em caso de boas condições, o prazo é de duas semanas, caso contrário, será em três semanas.
“O batalhão do exército informou que já tem todos os equipamentos e estruturas para concluir a reforma dessa pista e assim, após essa conclusão, irá ser instalado o hospital de campanha lá na base de Surucucu para começar esse atendimento de forma mais ampliada e evitar essa saída dos pacientes a todo momento para Boa Vista”, explicou.
Desde o dia 16 de janeiro, equipes do Ministério da Saúde e Força Aérea Brasileira (FAB) atuam na remoção de pacientes em estado grave da Terra Yanomami. Eles são trazidos para Boa Vista e são levados para o Hospital Geral de Roraima, no caso de adultos, e as crianças para o Hospital Santo Antônio.
Outras medidas são a construção de cisternas e poços artesianos nas comunidades. Isto porque com o avanço do garimpo, as águas estão contaminadas com mercúrio. No ano passado, o g1 mostrou que quatros rios da região tem alta contaminação por mercúrio: 8600% superior ao estipulado como máximo para águas de consumo humano.
Com a água e os peixes contaminados, os indígenas também não tem alimento para comer, já que vivem de pesca e caça. Com isso, desde o início da situação de emergência declarada pelo Ministério da Saúde, os indígenas tem recebido cestas básicas.
Guajajara também anunciou que haverá uma intervenção no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Yanomami, pois o coordenador substituto que respondia pelo órgão se demitiu no último domingo (5). O Ministério dos Povos Indígenas também vai adiantar a nomeação da coordenação da Fundação Nacional dos Povos Indígenas, que ainda não tem coordenador local.
Crise humanitária Yanomami
Em janeiro deste ano, o presidente Lula esteve em Roraima para acompanhar a crise sanitária dos Yanomami. Na ocasião, ele prometeu pôr fim ao garimpo ilegal na Terra Yanomami. Ele classificou a situação dos indígenas doentes como desumana.
A Terra Yanomami tem mais de 10 milhões de hectares distribuídos entre os estados de Amazonas e Roraima, onde fica a sua maior parte. São cerca de 30 mil mil indígenas vivendo na região, incluindo os isolados, em 371 comunidades.
A região está em emergência de saúde desde 20 de janeiro e inicialmente por 90 dias, conforme decisão do governo Lula. Órgãos federais auxiliam no atendimento aos indígenas.
As ações de desintrusão – expulsão dos garimpeiros do território, devem ser coordenadas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, que no último dia 30 publicou a criação de um grupo de trabalho para elaborar, em 60 dias, medidas de combate ao garimpo ilegal em terras indígenas.
Com o início das ações de repressão contra a atividade ilegal, como o controle do espaço aéreo, garimpeiros tentam deixar a região.
Vídeos que circulam nas redes sociais desde a última quinta-feira (31) mostram homens e mulheres em grupos deixando a região em barcos ou em caminhadas pela floresta. Eles também têm tentando sair da região em voos clandestinos, mas não estão encontrado pessoas dispostas a buscá-los no território.