Ucrânia acusa a Rússia de armazenar munições e veículos blindados no local da usina
Uma delegação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) desembarcou nesta quarta (31) em Zaporíjia, no sul da Ucrânia, para fazer uma inspeção no maior complexo nuclear da Europa. Durante semanas, russos e ucranianos se acusam de bombardear a região, mesmo com alertas de autoridades internacionais sobre o risco de um acidente nuclear.
— Finalmente estamos nos movendo depois de seis meses de esforços. A AIEA está se dirigindo para a usina nuclear de Zaporíjia — disse Rafael Grossi, chefe da agência da ONU, quando a missão deixou Kiev, horas antes. — Estou ciente da relevância deste momento, mas estamos preparados. A AIEA está preparada. Daremos um relatório após a missão. Vamos passar alguns dias lá.
Zaporíjia é o terceiro maior complexo nuclear do planeta. Ele conta com seis dos 15 reatores presentes na Ucrânia e pode fornecer energia para 4 milhões de casas. No dia 4 de março, a usina foi ocupada pelas forças russas, após uma batalha considerada de extremo risco pela AIEA.
Instalações chegaram a ser danificadas por foguetes e por disparos de artilharia, mas não houve danos nos reatores em operação.
Mesmo sob controle russo, o complexo é operado por funcionários ucranianos, que, de acordo com relatos de Kiev, trabalham em regime de “semiliberdade”. Estima-se que 500 militares russos estejam na central, também usada como local de armazenamento de armas e equipamentos de combate.
Ambas as partes se acusaram mutuamente do recente bombardeio ao redor da usina, que causou preocupação internacional sobre um possível acidente nuclear.
A Ucrânia afirma que a Rússia enviou soldados e armazena munições e veículos blindados no local da usina.
O país, uma ex-república soviética, sofreu a pior catástrofe nuclear da história em 1986, quando um reator na usina de Chernobyl explodiu e espalhou radiação na atmosfera.
A Ucrânia, inicialmente, temeu que uma visita da AIEA a Zaporíjia legitimasse a ocupação russa do local, mas depois apoiou a ideia de uma inspeção, se a equipe partisse do território controlado por Kiev.
O Kremlin também chamou a missão de “necessária” e pediu à comunidade internacional que pressione a Ucrânia para parar de colocar a usina em risco, disse seu porta-voz Dmitri Peskov.
Em uma reunião com Grossi, na terça-feira, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse estar “muito grato” pela visita e alertou que a situação ao redor da usina era “extremamente ameaçadora”.