Primeira-ministra diz que deixará o cargo em 7 de fevereiro; país terá eleições em outubro
Folha de São Paulo – A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, anunciou em um evento de seu partido nesta quinta-feira (19), ainda noite de quarta (18) no Brasil, que deixará o posto até o próximo dia 7 de fevereiro. O país terá eleições gerais em 14 de outubro.
“Estou saindo, porque com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. Inclusive a responsabilidade de saber quando você é a pessoa certa para liderar e quando não é”, afirmou, visivelmente emocionada, aos correligionários. “Eu sei o que esse trabalho exige. E sei que não tenho mais a energia necessária para fazê-lo da melhor forma. É simples.”
Jacinda poderia tentar a reeleição para o que seria seu terceiro mandato.
No pronunciamento, a política disse ainda que acredita na vitória de seu Partido Trabalhista no pleito. O vice-premiê e ministro das Finanças, Grant Robertson, já disse em comunicado que não deve ser o candidato da legenda.
Jacinda, 42, ganhou os holofotes ao se tornar à época a chefe de Executivo mais jovem do mundo, quando foi eleita a primeira vez, em 2017.
No cargo, viveu episódios que consolidaram sua imagem como uma líder com empatia e sensibilidade. No segundo ano de mandato, engravidou e não abriu mão de tirar seis semanas de licença-maternidade —deixando o país na mão do vice.
A filha atrairia atenções novamente ainda aos três meses, quando foi levada pela neozelandesa à Assembleia-Geral da ONU, em Nova York. Enquanto a mãe discursava no púlpito a outros chefes de Estado, Neve ficou no colo do pai, o apresentador Clarke Gayford.
Em 2019, Jacinda foi elogiada ao transmitir sentimentos de conciliação e união nacional a uma população traumatizada com o massacre de 51 pessoas por um extremista em duas mesquitas na cidade de Christchurch. Após a matança, armas semiautomáticas foram banidas no país.
No ano seguinte, ela levaria o Partido Trabalhista a uma vitória histórica, com ampla vantagem sobre a oposição do Partido Nacional. No segundo mandato, se projetaria com a forma como lidou com a gestão da pandemia de Covid-19. A Nova Zelândia virou exemplo mundial de combate à doença, com quarentena rígida, ampla campanha de testes e uma estratégia de comunicação eficiente.
A estratégia, porém, gerou desgaste com o tempo. Sob pressão de parcela da população, ante o aumento da vacinação e em meio ao surto constante da variante delta do coronavírus, em outubro de 2021 o país anunciou que abandonaria a política de Covid zero e passaria a conviver com o vírus.
Embora conhecida por promover causas progressistas, como os direitos da mulher e a justiça social, Jacinda enfrentou críticas internas de que seu governo falhou em cumprir transformações sociais.
Nos últimos meses, a primeira-ministra enfrentou os índices mais baixos de popularidade desde que chegou ao poder. Sondagem divulgada em dezembro pela Kantar One News Polling apontou que só 29% da população escolheria Jacinda para ocupar o cargo mais uma vez —dias antes do pleito de outubro de 2020, quando foi reeleita, esse índice era de 55%.
Outro episódio de desgaste recente se deu quando ela chamou o líder de um partido de oposição minoritário de “babaca arrogante”, sem saber que o microfone ao seu lado estava ligado. David Seymour, do liberal ACT, perguntou se a política daria “um exemplo de ocasião em que cometeu um erro, desculpou-se por ele devidamente e o corrigiu”. Jacinda respondeu que a severidade das medidas que seu governo impôs para conter a Covid foi difícil para a população, mas que ela defendia o trabalho executado.
Em seguida, veio o xingamento. Seymour a princípio exigiu que a primeira-ministra se desculpasse diante do Congresso, mas o pedido foi negado. Mais tarde, em um encontro com a imprensa, ele afirmou que Jacinda enviou uma mensagem de texto se redimindo pelo ocorrido e que estava tudo bem entre os dois.
No mês passado, a primeira-ministra admitiu em entrevista que o momento era desafiador para a sua administração, mas fez críticas à oposição que, segundo ela, não apresentava propostas para lidar com os problemas do país.
A turbulência política se soma à econômica, posto que a Nova Zelândia pode entrar em recessão neste ano. No mês passado a inflação anual estava em 7,2%, o maior índice em quase 30 anos, e os custos da comida, de aluguéis e da gasolina, em alta.
“Eu sou humana. Damos o máximo que podemos pelo tempo que podemos e então é hora. E, para mim, chegou a hora”, explicou a primeira-ministra.
“Estou saindo porque com um trabalho tão privilegiado vem uma grande responsabilidade. A responsabilidade de saber quando você é a pessoa certa para liderar —e também quando não é.”