ESTADÃO | O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve desempenhar um papel de contrapeso na Cúpula do G-7, em Hiroshima, no Japão, neste fim de semana, onde pretende conversar com líderes globais sobre a guerra na Ucrânia e sua proposta de mediação. Enquanto o bloco apoia integralmente a reação e a defesa do governo Volodimir Zelenski, Lula reafirma ter uma posição de neutralidade, rechaça o isolamento político completo de Vladimir Putin e se lança como potencial articulador para encerrar o conflito.
Lula chega ao Japão para uma série de reuniões. São nove encontros bilaterais, no mais alto nível político, e mais três mesas de trabalho conjuntas, para tratar de assuntos como o alto endividamento de países em desenvolvimento, a escalada da inflação, o combate à crise climática, a garantia de saúde pública e de segurança alimentar, além da guerra na Ucrânia.
Mas enquanto Lula fala em promover diálogos de paz e cessar o confronto imediatamente, todos os países do bloco dos mais industrializados (Japão, Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália e Reino Unido) fornecem armas ou equipamentos de defesa em apoio à Ucrânia. Zelenski recém encerrou uma turnê na Europa, por países do G-7, e agora planeja o desdobramento militar no campo de batalha, lançando uma contraofensiva.
Ao fim, a edição japonesa do G-7 pretende adotar duas declarações. Uma delas, costurada entre diplomatas apenas dos sete países-membros, deverá usar uma linguagem dura contra Rússia – o país foi expulso do bloco, antigo G-8, após anexar a Crimeia em 2014.
O segundo comunicado, negociado nos bastidores com o Brasil e demais países convidados, tem como tema central a segurança alimentar global, afetada diretamente pelo conflito no Leste Europeu, por causa da posição de Ucrânia e Rússia na produção de grãos e insumos agrícolas. Uma menção à guerra é, portanto, inevitável, mas o Itamaraty trabalha para que o texto não avance além disso.
Nas negociações prévias do rascunho, o Brasil atua para evitar que a reunião ampliada do bloco, com países convidados, se transforme em plataforma para fustigar a Rússia. Embaixadores envolvidos nas tratativas detectaram que os membros do G-7 devem tentar novamente emplacar termos sobre o confronto bélico que o Brasil ainda não avançou.
A depender do teor, Lula pode não subscrever o texto, o que seria considerado um revés diplomático para os esforços do G-7.
Mesmo sob críticas de seus parceiros ocidentais, o Brasil já deixou de endossar comunicados conjuntos que tratavam da guerra, sob alegação de que o assunto não era pertinente na ocasião. Foi o que ocorreu na segunda edição da Cúpula da Democracia promovida por Joe Biden, em março.
Se todo o G-7 é aliado da Ucrânia, entre os convidados os de maior peso são justamente Índia e Brasil, ambos parceiros dos russos nos Brics, além da Indonésia. O Brasil conta justamente com a oposição da Índia para evitar que o encontro no Japão seja visto como uma reunião anti-Rússia. A Índia é de longa data destino de armas russas e também compra petróleo do país em condições vantajosas, a despeito de reclamações no Ocidente.