Partidos da direita passam a ocupar 50% das vagas da Câmara, mas esquerda também avança
Folha de São Paulo | O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá como desafio negociar com um Congresso Nacional ainda mais polarizado do que nesta legislatura, com esvaziamento de partidos de centro.
O Congresso que toma posse em 2023 terá um perfil mais conservador do que o atual: os partidos da direita passam a ocupar 50% das vagas da Câmara e 44% das cadeiras do Senado Federal.
A análise das bancadas tem como base a métrica criada pela Folha para definir ideologicamente os partidos políticos. Nessa régua ideológica, o PCO é o partido mais à esquerda, e o Novo o mais à direita. O PSD ocupa posição central.
Levando em conta os parlamentares por estado, quase todas as bancadas de deputados federais eleitas têm predominância de partidos conservadores.
Há apenas quatro exceções: Piauí (onde a esquerda tem mais cadeiras), Pará (onde o centro predomina), Amapá (onde esquerda e direita têm o mesmo número de vagas e o centro é minoria) e Mato Grosso do Sul (onde direita e centro têm a mesma representação e a esquerda é minoria).
Ao todo, partidos de direita vão ocupar 259 das 513 cadeiras na Câmara dos Deputados, sete a mais que na composição atual.
A esquerda, por sua vez, conquistou seis novas vagas e terá 25% da Casa — mesmo percentual do centro, que perdeu 13 parlamentares.
A mudança mais brusca em direção ao campo conservador aconteceu na bancada do Acre, que tem oito cadeiras. Atualmente, ela é composta por três deputados de esquerda, quatro de centro e apenas um de direita.
A composição eleita, porém, tem apenas parlamentares do PP, União Brasil e Republicanos —todos conservadores.
Tocantins também terá 100% da sua bancada de deputados federais em legendas de direita. A da Paraíba, por sua vez, terá 10 dos 12 deputados eleitos filiados a partidos conservadores. Na sequência, aparecem os estados de Mato Grosso, Rondônia e Rio Grande do Norte, com 75% dos deputados eleitos em partidos conservadores.
O perfil ideológico dos partidos, contudo, não significa uma divisão estanque dos parlamentares eleitos. Existem dissidências no PP e Republicanos, legendas que formam o núcleo duro do centrão, e até mesmo na União Brasil, legenda com raiz na centro-direita que surgiu da fusão entre PSL e DEM.
A Paraíba é um exemplo disso. Dos 10 deputados federais de partidos de direita eleitos este ano, 5 apoiaram o governador reeleito João Azevêdo (PSB).
Até mesmo no PL, partido de Bolsonaro que terá a maior bancada da Câmara, há parlamentares que tendem construir pontes com Lula.
Isso porque, conforme apontado em reportagem da Folha, a maioria dos deputados eleitos pela legenda é formada por políticos profissionais, que fizeram carreira longe do bolsonarismo.
Aliados de Lula avaliam que o Congresso com maioria conservadora não será necessariamente um obstáculo para o petista, já que ele possui canais de interlocução com partidos de centro e tem um histórico de negociar pautas de seu interesse com parlamentares da direita.
“Lula tem experiência no diálogo com o Congresso Nacional e capacidade para dialogar com os diferentes. Tenho certeza que ele vai construir consensos em torno de uma agenda programática para o país”, avalia o deputado federal Sílvio Costa Filho (Republicanos-PE), único parlamentar de seu partido que apoiou o petista para a Presidência.
Proporcionalmente, a mudança do perfil ideológico em relação à composição atual é maior no Senado. A Casa terá um terço das cadeiras renovadas em fevereiro, quando tomam posse os eleitos no último dia 2, e reelegeu apenas cinco dos 27 senadores em fim de mandato.
Os partidos de direita serão maioria em 10 das 27 bancadas —duas a mais que a composição atual do Senado.
Na legislatura atual, as legendas de centro têm 41 das 81 vagas, a esquerda tem 12 e a direita, 28. Na nova composição, o centro perdeu 9 assentos, dos quais um foi para a esquerda e os demais, para a direita.
A esquerda manteve a cadeira que tinha no Pará e no Nordeste. No Maranhão, Piauí, Ceará e Pernambuco, os eleitos para o Senado são ex-governadores que exerceram mandato nos últimos oito anos: Flávio Dino (PSB), Wellington Dias (PT) e Camilo Santana (PT).
Este último vai ocupar a vaga do senador cearense Tasso Jereissati, tucano histórico que neste segundo turno apoiou Lula. Dino e Dias, por sua vez, vão ocupar as vagas de antigos aliados de Lula que acabaram migrando para partidos de direita e aderiram ao bolsonarismo: Roberto Rocha (PTB-MA) e Elmano Férrer (PP-PI).
Pernambuco elegeu Teresa Leitão (PT), que entrará no lugar de Fernando Bezerra Coelho (MDB), ex-líder do governo Bolsonaro na Casa. Com isso, a bancada pernambucana no Senado será 100% alinhada a Lula, assim com a bancada da Bahia e a do Maranhão.
A métrica da Folha leva em consideração sete quesitos para classificar os partidos como de esquerda, centro ou direita.
São eles: a votação dos deputados da legenda na Câmara, coligações, autodeclaração dos congressistas, frentes parlamentares, opinião de especialistas, migração partidária e o posicionamento no GPS Ideológico da Folha, que se baseia nos seguidores do Twitter (confira aqui a metodologia completa).