Para o diplomata togolês Clément Voule, governo eleito deve investigar assassinato se “quiser ser levado a sério”
Poder 360 – O governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve estabelecer como uma de suas prioridades a investigação do assassinato da ex-vereadora Marielle Franco, morta a tiros no Rio de Janeiro, em março de 2018. A avaliação é de Clément Nyaletsossi Voule, relator especial sobre Liberdade de Reunião Pacífica e de Associação da ONU (Organização das Nações Unidas).
“Se o novo governo quer ser levado a sério, ele terá de lidar com esse caso”, disse Voule em entrevista publicada pelo portal Uol nesta quinta-feira (17).
Para o diplomata, a tarefa de Lula é “garantir que as investigações cheguem até as pessoas que ordenaram o crime, e não apenas até quem puxou o gatilho”.
Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram mortos em 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro. O carro em que estavam foi atingido por 13 disparos. A vereadora foi seguida desde a Lapa, no centro da cidade, onde participava de um encontro político. A motivação do assassinato permanece sem solução.
Os suspeitos de terem cometido o crime, Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, estão presos preventivamente desde março de 2019 e aguardam júri popular, ainda sem data definida. A dupla é ré por duplo homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emboscada e recurso que dificultou a defesa da vítima), tentativa de homicídio e receptação.
“O caso de Marielle é uma espécie de símbolo de um país onde a luta contra a impunidade não é feita de maneira séria”, disse Voule. Segundo ele, os temores por uma represália similar afastam outras mulheres brasileiras da política.
O diplomata lamentou a falta de uma conclusão apesar dos esforços internacionais para apurar o assassinato. “Se o caso dela não pode ser lidado, imagina quantos outros sequer chegam a ser considerados”, disse.
Ele deve apresentar um relatório sobre a situação do Brasil no Conselho de Direitos Humanos da ONU em 2023, que deve incluir um pedido para a criação de um protocolo com termos para o uso da força policial. Irmã de Marielle, Anielle Franco foi indicada para compor a equipe temática de mulheres no governo de transição no sábado (12).