Frio, fome, falta de abrigo e doenças ameaçam as pessoas que conseguiram escapar da destruição
Após mais de 100 horas depois do terremoto que atingiu a Turquia e a Síria e que matou mais de 21 mil pessoas, a esperança de encontrar sobreviventes em meio aos escombros é cada vez menor. Porém, um fato animador é que uma criança foi achada, nesta quinta (9), viva na província de Hatay, quando já tinha cerca de 90 horas do momento dos tremores.
Identificada como Hilal Sağlam, a menina ficou presa sob os escombros de um prédio localizado na província de Hatay. Após ser socorrida e retirada do local desabado por bombeiros, ela, com o rosto coberto, chegou a acenar com uma das mãos para as pessoas que acompanharam seu resgate.
Em todas as regiões afetadas as equipes de emergência prosseguiram nesta quinta-feira com as buscas por milhares de pessoas que as autoridades suspeitam que estão presas nos escombros. O otimismo diminui com as temperaturas gélidas e a superação do prazo de 72 horas, considerado crucial para resgatar sobreviventes.
O novo balanço, baseado em dados oficiais e médicos, é de 17.674 mortos na Turquia e 3.377 na Síria, aumentando o número geral para 21.051. Segundo especialistas, ele irá aumentar.
Além disso, os países contabilizam perdas econômicas gigantescas: de acordo com a agência de classificação Fitch provavelmente devem “superar dois bilhões de dólares e podem alcançar quatro bilhões de dólares ou mais”.
O Banco Mundial anunciou hoje que destinará US$ 1,78 bilhão à Turquia para ajudar nos esforços de assistência e recuperação. Os Estados unidos, por sua vez, anunciaram um pacote inicial de 85 milhões de dólares para ajuda de emergência.
Cerca de 23 milhões de pessoas estão “potencialmente em risco, incluindo 5 milhões de pessoas vulneráveis”, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), que teme uma grave crise sanitária, com doenças como cólera, que causariam ainda mais danos do que o terremoto.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou nesta quinta-feira que estava seguindo para a Síria. Quase no mesmo instante, as Nações Unidas anunciaram que o subsecretário-geral de Assuntos Humanitários e coordenador dos serviços de emergência, Martin Griffiths, visitará as áreas afetadas no próximo fim de semana.
Na cidade turca de Antakya, os sobreviventes procuravam os corpos dos parentes mortos em um estacionamento transformado em necrotério improvisado.
O terremoto de magnitude 7,8 aconteceu durante a madrugada de segunda-feira, quando muitas pessoas estavam dormindo nesta região, onde milhares de moradores já sofreram com perdas e tiveram que deixar seus lares devido à guerra civil da Síria.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, instou, nesta quinta-feira, o Conselho de Segurança a autorizar a abertura de novos pontos fronteiriços entre Turquia e Síria para entregar ajuda humanitária da ONU às vítimas do terremoto.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) informou que um primeiro comboio de ajuda entrou hoje nas áreas controladas por rebeldes no noroeste da Síria, através do posto fronteiriço de Bab al-Hawa, segundo a ONU e uma autoridade local.
A entrega inclui cobertores, colchões, barracas e artigos básicos de socorro para cobrir as necessidades de ao menos 5.000 pessoas.
Descontentamento na Turquia
Do outro lado da fronteira, o descontentamento cresce com a resposta das autoridades ao terremoto que, como admitiu na quarta-feira o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, apresentou “deficiências”.
Vários sobreviventes foram obrigados a procurar alimentos e refúgio por conta própria. Sem equipes de resgate em vários pontos, alguns observaram impotentes os pedidos de ajuda dos parentes presos nos destroços até que suas vozes não fossem mais ouvidas.
O frio agrava a situação. Apesar da temperatura de -5 °C, milhares de famílias em Gaziantep passaram a noite em carros ou barracas, impossibilitadas de retornar para suas casas ou com medo de voltar para os imóveis.
Os pais caminhavam pelas ruas da cidade do sudeste da Turquia com os filhos no colo, enrolados em cobertores, para tentar reduzir os efeitos do frio.
— Quando sentamos, dói. Tenho medo por causa das pessoas presas nos escombros — disse Melek Halici, com a filha de dois anos coberta por uma manta.
‘Nenhum obstáculo à ajuda’
A União Europeia prepara uma conferência de doadores em março para mobilizar ajuda internacional para Síria e Turquia.
— Ninguém deve ficar sozinho quando uma tragédia como esta atinge uma população — , afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
A questão da ajuda é delicada na Síria, país afetado pela guerra civil, com regiões sob controle dos rebeldes e um governo que tem a inimizade do Ocidente.
A União Europeia enviou rapidamente equipes de emergência para a Turquia, que também recebeu ajuda dos Estados Unidos, da China e dos países do Golfo, mas, inicialmente, ofereceu assistência mínima à Síria por causa das sanções contra o regime de Bashar al-Assad.
Na quarta-feira, no entanto, o governo Assad solicitou formalmente ajuda a Bruxelas e a Comissão Europeia incentivou os 27 países do bloco a responder de maneira favorável, mas com vigilância para impedir o desvio de material.
O enviado especial da ONU para a Síria pediu que a ajuda humanitária não seja politizada. “Temos que fazer todo o possível para garantir que não exista nenhum obstáculo à ajuda vital que é necessária”, disse Geir Pedersen
Em uma região com atividade sísmica recorrente, o terremoto de segunda-feira foi o mais violento na Turquia desde 1939, quando um tremor provocou 33.000 mortes na província de Erzincan, leste do país.Em 1999, um terremoto de magnitude 7,4 matou mais de 17.000 pessoas.
Que tragédia 🙁