Ex-juiz e Milton Leite, presidente da Câmara Municipal de SP, disputam a vaga; decisão dependerá do presidente da legenda, Luciano Bivar
Metrópoles – Após sua candidatura à Presidência da República minguar, o ex-juiz Sergio Moro (União) está de olho na disputa ao Senado por São Paulo. Mas para concretizar seu plano, ele precisará competir internamente com o vereador Milton Leite, presidente da Câmara dos Vereadores de São Paulo, que também se coloca como provável candidato.
Moro tem se declarado pré-candidato ao Senado em São Paulo. “Eu estou no União Brasil. Hoje, estou como pré-candidato ao Senado aqui em São Paulo, mas claro que isso vai depender de eu tomar uma decisão quanto a isso no partido, mas, em princípio, a posição é essa”, disse à CNN Brasil na última quarta-feira (25/5).
No mesmo dia, Leite afirmou ao Diário do Grande ABC que seu nome “já está colocado dentro do partido” para essa vaga e que acredita que o ex-juiz deve concorrer a deputado federal. “Meu sonho realmente é o Senado Federal. Quero respirar o novo ar mais quente e rarefeito de Brasília”, falou.
Milton Leite é uma das principais lideranças da sigla no estado, com forte influência na política paulista. Ele está no sétimo mandato consecutivo como vereador e é a quarta vez em que preside a Câmara Municipal.
O nome de Moro, por outro lado, é visto dentro do partido como peça-chave para um “projeto nacional”. A última palavra sobre seu destino ficará com o presidente Luciano Bivar. Mas, a princípio, algumas lideranças de fato preferem que Moro dispute uma vaga na Câmara dos Deputados, para que ele seja um “puxador de votos”. Isso porque a legenda tem uma meta ambiciosa de eleger ao menos 60 deputados ao Legislativo Federal.
No início de abril, porém, recém-chegado ao União, o ex-ministro da Justiça descartou concorrer a deputado.
Seja quem for o candidato, fará parte da chapa com o governador Rodrigo Garcia (PSDB), porque, no estado, os tucanos têm um acordo com o União Brasil e com o MDB, para indicação tanto da vaga ao Senado quanto da vaga de vice.
Garcia é próximo a Milton Leite, e antes de migrar para o PSDB no início do ano, os dois faziam parte do mesmo partido, o DEM. Mas o governador está deixando esse debate nas mãos do União.
Segundo integrantes do União Brasil, tanto Moro quanto Leite foram autorizados a se portar como pré-candidatos, mas sabem que só haverá uma decisão mais para frente, quando o se aproximar o período das convenções partidárias – de 20 de julho a 5 de agosto.
Pesquisas
O nome de Moro ao Senado começou a ser testado publicamente recentemente. Pesquisa Real Time Big Data contratada pela Record TV divulgada na última segunda (23/5) mostrou o apresentador José Luiz Datena (PSC) na liderança, com 29% das intenções de voto, e o ex-juiz em segundo, com 20%. Já Leite como o candidato do União Brasil, em um cenário sem Moro, ficou com 4%.
Um levantamento do Instituto Paraná Pesquisas de 2 de maio também mostrou Datena com 29% das intenções de voto, e Moro em seguida com 21,8%. No cenário sem Moro, Milton Leite chegou a 6,5%.
A grande fatia do eleitorado que Moro tem é relevante e tem sido observada pelo União, mas o partido estuda justamente aproveitar essa quantidade de votos para aumentar a bancada no Congresso.
O fator Datena
O primeiro nome que o União Brasil lançou ao Senado foi Datena, em março. Ele seria o candidato da chapa com Garcia, mas tudo mudou quando o apresentador rompeu com o PSDB no fim daquele mês, após o então governador João Doria (PSDB) ensaiar não deixar o governo para seu vice assumir, o que mudaria o jogo eleitoral em São Paulo.
A briga com os tucanos não foi revertida, Datena foi para o PSC e decidiu apoiar Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao governo paulista, o candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Independente do partido ao qual está filiado, o apresentador sempre foi o favorito nas pesquisas de opinião de voto, e diversos políticos, da direita à esquerda, já admitiram reservadamente que caso ele siga na disputa, deve ser o vencedor.
Caso sua candidatura não se concretize, a disputa pode mudar e ficar mais acirrada. Petistas apostam até que, sem Datena, o pré-candidato ao governo Márcio França (PSB) desistiria do posto para concorrer ao Senado, porque assim teria grandes chances de se eleger.
Datena tem um histórico de desistências. Em 2016, falou que tentaria ser prefeito de São Paulo pelo PP, mas voltou atrás. Em 2018, iria concorrer ao Senado pelo DEM, mas não foi até o fim. Em 2020, cogitou novamente disputar a prefeitura pelo MDB e também desistiu.
Agora, o apresentador já recebeu o respaldo do presidente Jair Bolsonaro, mas uma fatia dos aliados do presidente resiste à sua indicação – ele já chegou a ser vaiado por bolsonaristas quando apareceu ao lado de Tarcísio em um evento no interior do estado.
Em 17 de maio, disse ao jornal Folha de S.Paulo que “já é difícil disputar uma eleição contra inimigos. Agora, contra fogo amigo também, não dá. Desse jeito, a política vai desistir de mim mais uma vez”.