Num ranking de 150 países, vizinho sul-americano é o que tem a maior parcela de empregados pagos com moeda digital
BUENOS AIRES, O Globo — Estádios, ônibus e outdoors em toda a Argentina exibem anúncios de bolsas de criptomoedas. A instabilidade econômica do país incentiva um dos maiores avanços do dinheiro digital já vistos.
Apresentadores de TV e rádio falam sobre opções de investimento em moedas digitais e uma bolsa de criptomoedas patrocina o maior torneio de futebol do país.
Também aumenta o número de trabalhadores que são pagos em criptomoedas para contornar controles cambiais e oscilações da taxa de câmbio e se proteger da inflação que chega a 50%. A Argentina tem uma parcela maior de empregados pagos em criptomoeda do que qualquer outro país, de acordo com a Deel, firma especializada em folha de pagamento que opera em 150 países.
Por trás da tendência está a legislação local que permite que as empresas paguem até 20% da remuneração em espécie.
É uma grande vantagem em vista dos controles cambiais aplicados na Argentina. Se uma empresa pagar US$ 1.000 por meio do sistema bancário, o funcionário receberia cerca de 109.000 pesos segundo a taxa de câmbio oficial. Mas se o trabalhador for pago em criptomoeda, a troca pode ser feita pela taxa de câmbio paralela não regulamentada, resultando em cerca de 200.000 pesos — uma diferença de 83%.
— A criptomoeda melhora os salários locais— disse Matias Dajcz, vice-presidente global de operações de balcão da Ripio, prestadora de serviços a empresas que pagam em criptomoeda.
‘Stablecoins’ atreladas ao dólar
O setor de tecnologia, em particular, vem pagando parte dos salários com stablecoins atreladas ao dólar, além de Bitcoin e Ethereum. Os preços de muitas dessas moedas caíram nos últimos meses, com o Bitcoin recuando cerca de 40% em relação ao pico atingido em novembro. O movimento causou perdas substanciais aos argentinos que detinham moedas virtuais e não haviam convertido em pesos.
Algumas empresas infringem regras e ultrapassam o limite de 20% do salário pago em espécie, segundo Andrés Ondarra, gestor da bolsa Bitso, que tem 4 milhões de usuários.
O número de empresas que pagam salários em moeda digital aumentou 340% nos últimos 12 meses, de acordo com a Buenbit, bolsa de criptomoedas argentina com 600.000 usuários.
O banco central não está satisfeito com a tendência e alertou os argentinos que suas economias em criptomoedas são vulneráveis a ataques cibernéticos e não são protegidas por garantia de depósito.
Como parte do acordo de US$ 45 bilhões assinado com o Fundo Monetário Internacional este mês, a Argentina se comprometeu a “desencorajar o uso de criptomoedas com o objetivo de prevenir lavagem de dinheiro, informalidade e desintermediação”.