Deputado Marcos Pereira diz que a maioria da bancada do Congresso não quer aderir ao Planalto
Folha de São Paulo | O presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), diz que o partido permanecerá independente e não integrará a base de apoio ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso Nacional.
“Eu não vejo como a gente atuar como base do governo. Não há nada então que possa atrair [o partido para a base]”, disse Pereira em entrevista à Folha.
Pereira afirma que não toparia ingressar na base mesmo que Lula oferecesse um ministério à legenda. Ele justifica a decisão dizendo que a maior parte da bancada do partido foi eleita e se identifica com a centro-direita.
Pereira argumenta ainda que seu partido elegeu o governador do maior estado do país, Tarcísio de Freitas, em São Paulo, e que não sabe como o Republicanos se posicionará na eleição presidencial de 2026.
Integrantes do governo Lula tentaram atrair o seu partido para a base e inclusive apoiaram o nome de Jhonatan de Jesus para o TCU (Tribunal de Contas da União). Qual é a chance de o Republicanos integrar o governo? O partido continua independente e vai continuar independente.
Esse acordo de apoiar o Jhonatan, e até me apoiar para primeiro vice-presidente da Câmara, foi feito ainda no momento de transição, na [votação da] PEC da Transição [em dezembro]. O partido votou 100% contrário à PEC e ajudou a derrubar um destaque [que tratava do arcabouço fiscal]. Então não se trata de governabilidade no governo, mas de um acordo pretérito, numa outra situação.
Não há nada que faça o partido mudar de opinião? Em 2019, nós fizemos uma convenção nacional do partido para a mudança do nome [de PRB para Republicanos] e do [lançamento do] manifesto político do partido.
No manifesto político, nós já abrimos no preâmbulo dizendo que o Republicanos é um partido conservador e liberal na economia.
Defendemos a livre iniciativa, o mercado, a meritocracia. É um manifesto de centro-direita. Então, nesse contexto, nosso manifesto político e o resultado da eleição —elegendo o governador do maior colégio eleitoral, do estado mais pujante e mais rico do país— não nos permite fazer parte da base do governo que é mais estatizante, socialista etc. Eu não vejo como a gente atuar como base do governo. Não há nada então que possa atrair [o partido para a base].
Nem se Lula oferecer um ministério? Não.
O senhor está pensando na eleição de 2026? Óbvio. Não estou pensando na presidência propriamente dita. Nós temos quatro senadores, dos quais três foram eleitos nesse campo: General Mourão (RS), Damares [Alves] (DF) e Cleitinho (MG). O senador Mecias [de Jesus] já vinha no partido, mas também é de um estado, que é Roraima, cuja população é mais de centro-direita. Então a bancada no Senado tem dificuldade de virar governo.
E a bancada da Câmara, dos 42 [deputados], nós temos aí no máximo —se você fizer um esforço, espremer muito— 15 deputados, e a maioria do Nordeste [que topam integrar a base]. Eu disse para alguns deles, para você, que é do Nordeste, virar a base de Lula é um sonho. Mas para quem é do Centro-Oeste, do Sudeste, do Sul não tem condição.
Quando eu olho para 2026, estou olhando para aumentar a bancada de senadores e aumentar a bancada de deputados; no mínimo, manter. Não vejo como a conta fecha. Como vou prejudicar a maioria?
Para além disso, tem a questão também de em que campo que a gente vai estar em 2026 para presidente. Nós temos o governador do principal estado.
O projeto do Tarcísio, o mais natural é que ele seja candidato à reeleição. Agora, se houver um chamamento da população brasileira [para ele ser candidato a presidente], uma coisa que pesquisas qualitativas e quantitativas [meçam], e também a população, aquela onda, não podemos descartar. Mas nesse meio tempo tem o próprio [ex-presidente Jair] Bolsonaro, que é o mesmo eleitor. O que vai acontecer com ele, ninguém sabe.
Pelo que eu conheço do Tarcísio, se Bolsonaro for candidato, não acredito que ele disputaria contra ele.
Se o Tarcísio não tivesse sido eleito governador, essa conta de não entrar na base seria a mesma? Seria a mesma porque nós temos um manifesto político, uma mudança de postura, de nome, que nos obriga a nos posicionarmos nessa toada.
O governo tem base? Ainda não tem base, mas, dependendo do tema, penso eu que o parlamentar não tem como ficar contra.
Mas isso passa por saber negociar emendas extras e cargos? O governo vai organizar com o Congresso. Eu não gosto de falar dos outros, mas quando você entrega três ministérios a um partido e esse partido diz que não é base, é independente, tem alguma coisa errada. Se o Republicanos tivesse três ministérios, só teria uma chance, que é de ser base.
E cargos de segundo escalão? A gente sabe que tem parlamentares do seu partido que estão negociando. Aí são as coisas da política, né? Um deputado do Nordeste, do Norte, para ele é importante ter cargos no estado, mostra prestígio, influência. Eu não estou colocando a faca no pescoço de ninguém, mas é óbvio que, em alguns temas que são caros ao partido, o partido vai cobrar fidelidade.
O sr. falou com Lula? Eu conversei por telefone no dia da aprovação da PEC da Transição. O líder [do governo no Senado] Jaques Wagner (PT-BA) ligou e falou: “olha, o presidente quer agradecer aqui por terem ajudado no destaque”. Mas era importante ajudar. Não somos uma oposição por oposição, como às vezes até o Partido dos Trabalhadores foi.
A gente é uma oposição ou uma independência com diálogo, construção. Eu não quero que o avião caia porque eventualmente eu não concorde com o que o piloto faz.
A não ida para a base tem a ver com o fato de a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ter rechaçado o apoio da Igreja Universal? Deixa eu falar: dos 42 deputados [do Republicanos], 12 são da Universal —30 não são. São quatro senadores e nenhum é da Universal. Dois governadores que são católicos. O que tem a ver? É o fato de eu ser da Universal? O partido não é da Igreja Universal.