Gigante do streaming registra queda de 200 mil clientes e estima que 100 milhões acessam serviço sem pagar
REUTERS – O gigante de streaming Netflix divulgou nesta terça-feira (19) uma queda de 200 mil assinantes no primeiro trimestre do ano. É a primeira vez que a empresa registra um recuo no indicador em uma década. A projeção é que o número deve continuar caindo no segundo trimestre.
A empresa culpou a inflação, a guerra na Ucrânia e a competição acirrada no setor pelo resultado ruim. O cenário levou a empresa a falar pela primeira vez em incluir anúncios em seu serviço, que seriam mostrados em pacotes mais baratos.
“Aqueles que acompanham a Netflix sabem que eu tenho sido contra a complexidade da publicidade, e um grande fã da simplicidade da assinatura”, disse o CEO da companhia, Reed Hastings. “Mas, por mais que eu não seja um fã disso, eu sou mais fã da escolha do consumidor.”
Hastings citou os casos da Disney e da HBO como exemplos de sucesso de modelos de streaming financiados também por anúncios.
Com a queda, a Netflix não alcançou a meta de 2,5 milhões de usuários totais que havia estabelecido para o período. A empresa também projeta queda de mais 2 milhões de assinantes nos próximos meses, mesmo com o lançamento de grandes hits, como novas temporadas de “Stranger Things” e “Ozark”.
“O grande número de lares dividindo contas, combinado com a competição, criou um vento contrário para as receitas. O grande boom do streaming impulsionado pela Covid obscureceu esse cenário até recentemente”, disse a Netflix.
A estimativa da empresa é que, para além dos assinantes pagantes, há mais 100 milhões de lares com acesso ao serviço via compartilhamento de contas, sendo 30 milhões apenas nos EUA e no Canadá.
A última vez que a Netflix havia reportado uma perda de usuários foi em outubro de 2011. Atualmente, o serviço de streaming tem 221,6 milhões de assinantes.
No after market (após o fechamento do mercado), as ações da empresa despencaram mais de 20%, perdendo US$ 40 bilhões em valor de mercado.
Esta é a segunda vez que a Netflix surpreende os investidores neste ano, depois de sacudir os mercados com sua previsão de que o crescimento de assinantes diminuiria significativamente em 2022. Considerando todo o período desde janeiro, as ações acumulam perda de 42%.
As receitas no primeiro trimestre cresceram 10%, para US$ 7,89 bilhões, um pouco abaixo da projeção do mercado, de US$ 7,93 bilhões.
“Eles sofreram com uma combinação de saturação, inflação, guerra na Ucrânia e concorrência”, disse Michael Pachter, analista da empresa de investimentos Wedbush. “Eu não acho que nenhum de nós esperava que tudo acontecesse de uma vez.”
A expectativa era que o serviço de streaming dominante no mundo relatasse um crescimento lento, em meio à intensa concorrência de rivais estabelecidos, como a Amazon, empresas de mídia tradicionais, como a Walt Disney, e as recém-chegadas, como a Apple.
Os serviços de streaming gastaram US$ 50 bilhões em novos conteúdos no ano passado, em uma tentativa de atrair ou reter assinantes, segundo pesquisa da Ampere Analysis. Isso representa um aumento de 50% em relação a 2019, quando muitos dos serviços de streaming mais recentes foram lançados, sinalizando a rápida escalada da chamada “guerra do streaming”.
A Netflix observou que, apesar da intensificação da concorrência, sua participação na exibição de TV nos Estados Unidos manteve-se estável, de acordo com a Nielsen. “Queremos aumentar essa participação mais rapidamente”, disse a empresa.
A estratégia da companhia é tentar estimular o crescimento melhorando a qualidade da programação e das recomendações, além de buscar cobrar taxas de algumas das 100 milhões de residências que compartilham contas.
O gigante do streaming também enfatizou a importância do crescimento internacional. “Enquanto centenas de milhões de residências pagam pela Netflix, bem mais da metade das residências com banda larga do mundo ainda não pagam —representando um enorme potencial de crescimento futuro”, disse a empresa.
Hoje, 3 dos 6 programas mais populares do serviço de streaming não são em inglês: os sul-coreanos “Round 6” e “All of Us Are Dead” e a quarta temporada de “La Casa de Papel”, da Espanha. A Ásia foi a única região onde a companhia registrou crescimento, com aumento de assinantes no Japão, Índia e Filipinas, entre outros países.
Para sustentar as produções, a Netflix vem desenvolvendo suas capacidades de produção internacional e agora está produzindo filmes e televisão em mais de 50 países.
A empresa já elevou os preços das assinaturas nos EUA e no Canadá neste ano, o que custou cerca de 600 mil assinantes, mas foi “significativamente positivo em termos de receita”, disse a empresa. A Netflix também perdeu 700 mil clientes após a decisão de suspender seus serviços na Rússia após a invasão da Ucrânia, em março.