Taxa de desocupação recua no país, mas 2,6 milhões ainda estão no desemprego de longa duração
O Globo – A taxa de desemprego do Brasil recuou em seis das 27 unidades da federação no terceiro trimestre e ficou estável em outras 21 unidades. Na média nacional, foi de 8,7%.
Mas, ainda assim, 2,6 milhões de brasileiros – ou 27,2% do total de desempregados – buscam uma vaga de trabalho há dois anos ou mais.
É o que mostra a pesquisa trimestral de emprego divulgada nesta quinta-feira pelo IBGE.
O desemprego de longa duração está se consolidando em patamares mais elevados no Brasil. No terceiro trimestre de 2021, a parcela dos desempregados que buscavam uma vaga há dois anos ou mais era de 24,9%, contra 27,2% agora. Em 2015, era de 16,9%.
A parcela dos desempregados que busca uma colocação em prazo superior a um ano e inferior a dois anos era de 11,7% no terceiro trimestre deste ano.
Apenas 16,6% do total de desocupados está à procura de trabalho há menos de um mês. E outros 44,5% procuram em um prazo de um mês a um ano.
— Há sinais positivos no mercado de trabalho, mas estamos vendo o movimento de recuperação do emprego vem perdendo a força na comparação com o ritmo que vinha registrando, principalmente na comparação com o segundo trimestre — diz Rodolpho Tobler, economista do FGV Ibre. — No detalhe ainda existe muita desigualdade e grandes desafios que exigem trabalho e enfrentamento.
O aumento do grupo de pessoas que buscam emprego há mais de dois anos entre os desocupados acende um sinal de alerta:
— Isso é um grande complicador no longo prazo. Quem está ficando de fora agora e tem mais dificuldade para voltar a trabalhar, quando conseguir retornar, não terá mais a mesma qualificação e produtividade de antes de sair do mercado de trabalho. Vai aceitar ganhar menos e entrar em ocupações de menor produtividade. Estruturalmente, é um grande desafio para os próximos anos.
Desemprego recua em só seis unidades da federação
A taxa de desemprego recuou em apenas seis das 27 unidades da federação no terceiro trimestre, na comparação com o trimestre anterior. Caiu em Paraná, de 6,1% para 5,3%; Minas Gerais, de 7,2% para 6,3%; Maranhão, de 10,8% para 9,7%; Acre, de 11,9% para 10,1%; Ceará, de 10,4% para 8,6%, e Rondônia, de 5,8% para 3,9%.
Nas demais unidades da federação, a taxa permaneceu estável, embora a medição para o país como um todo tenha diminuído em 0,6 ponto percentual, para 8,7%. As taxas mais altas foram registradas na Bahia (15,1%), em Pernambuco (13,9%) e Rio de Janeiro (12,3%).
— O mercado de trabalho continua a crescer, mas em ritmo mais lento que no segundo trimestre e mais concentrado em poucas regiões. E isso preocupa porque o que se deseja é manter o ritmo de expansão. Com a economia podendo perder um pouco de força na virada de 2022 para 2023, o mercado de trabalho também pode perder força de reação e estabilizar — avalia Tobler.
De outro lado, os mais baixos níveis de desemprego de julho a setembro foram registradas em Rondônia (3,9%), Mato Grosso (3,8%) e Santa Catarina (3,8%).
A taxa de ocupados, em paralelo, subiu também em apenas seis unidades da federação na comparação trimestral, mas, neste caso, em Paraíba, Maranhão, Ceará, Alagoas e Pará. Nas demais, ficou estável.
Outra coisa é que o desemprego varia também conforme o nível de educação do trabalhador. Para aqueles com nível superior completo está em 4,1%, aqueles com superior incompleto registram taxa de 9,1%, enquanto os que têm ensino médio incompleto registram uma taxa de 15,3%.
Alta do rendimento ainda restrita
O rendimento médio mensal, conforme já fora anunciado, alcançou R$ 2.737 no terceiro trimestre, com alta de 3,7% contra abril a junho. Pela análise por unidades da federação, porém, houve aumento em apenas oito estados: Piauí (18,4%), Tocantins, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Amapá, Goiás, Minas Gerais e Santa Catarina. Há estabilidade nas demais.
O maior rendimento mensal foi registrado no Distrito Federal, de R$ 4.793; o menor, no Maranhão, de R$ 1.697.
— O rendimento médio alcançou uma expansão anual de 2,5%, após cinco quedas anuais consecutivas. Esse crescimento tem bastante relação com a queda da inflação. Já vínhamos percebendo expansão nominal do rendimento, mas ao incorporar a inflação, ele caía. Com a inflação caindo, agora chega a ter registro positivo — explica Adriana Beringuy, coordenadora da pesquisa do IBGE.
Ela explica que, apesar dessa expansão na média nacional, esse crescimento se verifica em poucas unidades da federação:
— Embora em nível nacional tenha havido uma primeira expansão de renda real após sucessivas quedas, por unidades da federação, a maioria ainda não registra crescimento significativo — frisa ela.
O patamar de R$ 2.737, apesar do ganho real, ainda é baixo. Ele supera os R$ 2.574 registrados no último trimestre de 2021, mas é bem inferior aos R$ 3.004 do terceiro trimestre de 2020.