Gabinete de Segurança Institucional alega que informação não pode ser divulgada porque coloca em risco a vida do presidente e de seus familiares
Em meio às graves denúncias de corrupção dentro do Ministério da Educação, citando, inclusive, o nome de Jair Bolsonaro, o Palácio do Planalto anunciou que os encontros entre o presidente e os pastores lobistas do MEC estão em sigilo.
O jornal O Globo solicitou os dados dessas reuniões ao Palácio do Planalto, via Lei de Acesso à Informação, principalmente a relação de entrada e saída dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura em reuniões com destino no gabinete presidencial, porém foi informado que a solicitação “não poderá ser atendida”, porque a divulgação dessa informação poderia colocar em risco a vida do presidente da República e de seus familiares, através do Gabinete de Segurança Institucional (GS), que é comandado pelo ministro Augusto Heleno.
Os pastores Gilmar e Arilton se reuniram com Bolsonaro ao menos três vezes no Palácio do Planalto e uma no Ministério da Educação, com a presença de Milton Ribeiro. Esses encontros constam da agenda oficial do presidente. Apesar dessa informação ter sido divulgada pelo próprio Planalto, o GSI se recusa a informar as visitas dos religiosos registradas nas portarias da sede do Poder Executivo.
Além do Palácio, os pastores também marcaram presença no Congresso Nacional. Desde 2019, Arilton Moura esteve na Câmara, pelo menos, 90 vezes entre janeiro daquele ano até março de 2022. São registradas idas ao gabinete de dez parlamentares diferentes e de diferentes legendas. Isso inclui também o nome do deputado Eduardo Bolsonaro.
Os religiosos estão na mira da uma investigação da Polícia Federal sob a suspeita de intermediar a liberação de recursos da Educação para prefeituras. Arilton foi acusado de pedir propina em Bíblias, e de atuar em parceria com o pastor Gilmar Santos. Convidados pelo Senado para esclarecer os fatos na última quinta-feira, a dupla declinou do convite alegando que já é alvo de “procedimentos na esfera judicial”.
De acordo com os registros de visitantes da Câmara, em 16 de outubro de 2019, Moura informou que iria ao gabinete 350 no Anexo IV, ocupado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Dois dias depois, o pastor acompanhou o seu colega Gilmar Santos em um encontro com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Procurado, o parlamentar não quis comentar a agenda com o lobista do MEC.
O congressista que mais recebeu Moura na Câmara foi João Campos (Republicanos-GO) — ao menos cinco vezes. O parlamentar também foi o anfitrião das duas oportunidades em que Gilmar Santos esteve na Câmara. Ao GLOBO, Campos afirmou que Santos lhe pediu recursos de emenda parlamentar para uma fundação ligada a uma igreja.
— Ele falou que tinha um projeto social lá, (perguntou) se eu poderia ofertar uma emenda para isso. Mas a entidade dele não preenchia os requisitos para receber os recursos. Então, acabei não fazendo, mas, se estivesse regularizada, eu faria — disse o deputado goiano.