Funcionária da escola onde o jovem estudava antes de ser transferido registrou boletim de ocorrência relatando posts que ‘simulavam ataques violentos’
O Globo | A polícia foi alertada sobre o “comportamento suspeito nas redes sociais” do aluno de 13 anos que matou nesta segunda-feira uma professora e feriu outras três dentro da Escola Estadual Thomazia Montoro, na Zona Oeste de São Paulo. O alerta foi feito em 28 de fevereiro por uma funcionária da Escola Estadual José Roberto Pacheco, em Taboão da Serra, onde o jovem estudava antes de ser transferido para o colégio onde realizou o ataque a faca.
No boletim de ocorrência registrado no 1° Distrito Policial de Taboão da Serra, a funcionária da escola relata que o estudante publicou “vídeos comprometedores”, entre eles gravações “portando arma de fogo, simulando ataques violentos”. Diz também que o jovem “encaminhou mensagens e fotos de armas aos demais alunos por WhatsApp”, e que alguns pais estavam “se sentindo acuados e amedrontados com tais mensagens e fotos”.
A polícia, na ocasião, determinou que os pais do aluno fossem intimados e deu prazo de seis meses para realizar investigações.
O jovem foi apreendido em flagrante nesta manhã e encaminhado para o 34° Distrito Policial (DP), na Vila Sônia, onde prestou depoimento. Pouco depois das 18h, o adolescente foi levado para o Instituto Médico Legal, na Vila Leopoldina, e será transferido em seguida para o centro provisório da Fundação Casa, no Brás.
No início da noite, o delegado titular do 34º DP, Marcos Vinicius Reis, disse que a polícia encontrou na casa do adolescente bilhetes mostrando o planejamento prévio do ataque. No depoimento aos investigadores, o adolescente foi “frio”, segundo o delegado, e não demonstrou emoção. Também foram apreendidas na casa dele máscaras, uma arma de airsoft e as anotações premeditando o ataque desta segunda-feira. A polícia planeja ouvir mais pessoas e analisar publicações nas redes sociais para buscar entender as motivações e se alguém teria auxiliado ou incentivado o jovem a cometer o crime.
— A gente tem que fazer ainda um intenso trabalho também de redes sociais, verificar a questão de eventual apoio, de eventual instigação (ao crime, por parte de outras pessoas). O que eu posso adiantar é que ele passou todas as informações de maneira pormenorizada e admitiu os fatos. Ele foi bem frio, não demonstrou muita emoção e confessou na presença da advogada, na presença dos pais, que cometeu o ato — disse o delegado.
O aluno que cometeu o ataque a faca foi transferido para a nova escola há pouco tempo, em 15 de março. De acordo com o secretário de Educação, Renato Feder, o jovem “teve problemas de violência” em sua escola anterior. O secretário não entrou em detalhes.
Na semana passada, o mesmo estudante havia se envolvido em uma briga, já na Escola Estadual Thomazia Montoro. Ele teria uma conversa com a diretora do colégio na manhã desta segunda-feira, justamente quando ele praticou o ataque. De acordo com Renato Feder, o outro estudante envolvido na briga havia conversado com a diretora da escola ainda na sexta-feira.
O delegado que investiga o caso não quis falar nem sobre a briga ocorrida na semana passada e nem sobre o boletim de ocorrência que havia sido registrado um mês atrás.
Em entrevista concedida a jornalistas na tarde desta terça-feira, representantes do governo estadual destacaram a existência de uma plataforma para que os diretores das escolas registrem ocorrências que possam requerer a ação de psicólogos. As autoridades paulistas não souberam informar se essa briga da semana passada já havia sido cadastrada no sistema. Pontuaram que os gestores das escolas têm até sete dias para fazer o registro.
A escola Thomazia Montoro terá as aulas suspensas por ao menos duas semanas, período em que alunos, familiares e funcionários receberão auxílio psicológico do Estado. O governo antecipou o recesso que haveria em julho para que os estudantes não tenham atraso no calendário previsto no ano letivo.
O governo anunciou que pretende ampliar o programa de atendimento psicológico nas escolas para prevenir novos casos de violência. Segundo o secretário, atualmente há 300 profissionais ligados à Secretaria de Saúde que fazem atendimentos a alunos, professores e funcionários das escolas quando há situações de brigas, agressões verbais, discriminação ou relatos de insatisfação, por exemplo.
Feder disse que, além desses profissionais, que atuam em todo o Estado, há ainda mais 500 funcionários da Secretaria de Educação treinados para fazer atendimentos semelhantes. A meta agora é fazer com que esse número chegue a 5 mil, tendo uma pessoa capacitada em cada escola.
— Não é do dia para a noite. A gente precisa selecionar e treinar essas pessoas. Mas vamos ampliar de 500 para 5 mil o número de profissionais para que a gente consiga estar ainda mais presentes nas escolas — declarou.
Além desse programa, o governo informou também que está planejada a contratação de 150 mil horas de atendimentos presenciais com psicólogos e psicopedagogos para auxiliar as comunidades escolares. Essa contratação está ainda na etapa de cotação de preços e a licitação deve ser aberta “em algumas semanas”, segundo Feder.