Para analistas, hipótese de presidente herdar votos do ex-juiz afunilaria disputa com Lula. Doria e Tebet devem fazer acenos
Na última quinta (31), o ex-juiz Sergio Moro, ao se filiar ao União Brasil, desistiu da campanha presidencial em 2022. As consequências disso podem ser ainda mais votos para Jair Bolsonaro (PL). Isso deve ao fato de que a maior parte dos votos para Moro serem de classes com rendas maiores, que tem mais rejeição ao ex-presidente Lula (PT). Essa tendência é a mesma dos votos já direcionados para Bolsonaro.
Na última pesquisa do Datafolha, divulgada em março, Moro tinha 8% das intenções de voto para o próximo pleito. Considerando somente a parte mais rica da população, com remuneração acima dos dez salários mínimos, a intenção dos votos subia para 15% para o ex-juiz. Este estrato da sociedade é o mesmo em que Bolsonaro leva vantagem contra Lula, tendo 39% das intenções, contra 23% do petista. Nas intenções gerais, o candidato de esquerda marcou 43% dos votos, contra 26% para o atual presidente.
Moro também crescia entre os empresários, com 12%. No grupo, Bolsonaro obteve 50% da preferência, segundo o Datafolha.
— A retirada do Moro sugere que ele fez uma leitura de que não estava conseguindo se viabilizar, o que mostra a fragilidade atual da terceira via. Lula, apesar de alguma modificação, mostra-se estabilizado. Bolsonaro cresceu, e deve ganhar mais terreno sem Moro e com a instabilidade de Doria — analisou o cientista político José Álvaro Moisés, professor da USP.
A última pesquisa eleitoral do Ipec mostrou que, em dezembro de 2021, cerca de 10% dos eleitores que votaram em Bolsonaro em 2018, declararam que votariam em Moro neste ano. No lado do candidato do PT, Fernando Haddad, apenas 3% mostraram apoio ao ex-juiz.
Porém, uma parte dos eleitores de Moro pode acabar não votando em Bolsonaro, mas procurando outra força da chamada “terceira via”. João Doria (PSDB) e Simone Tebet (MDB) são os nomes mais prováveis para essa transferência, pois Ciro Gomes (PDT) se afasta desse eleitorado.
— Doria pode herdar votos de eleitores de Moro mais associados ao antibolsonarismo, a exemplo dele, e que não migram para o Lula mais do que num nível residual. Com isso, ganha mais amplitude, auxiliado também pela carta do PSDB confirmando sua candidatura. Mas ele precisará mostrar cartas melhores para atrair outras siglas de centro — afirmou Murillo Aragão, da Arko Advice Pesquisas.
O patamar elevado de rejeição do pré-candidato do PSDB, que chega a 30% segundo o Datafolha — é superado apenas por Lula e Bolsonaro no quesito —, é um empecilho, segundo analistas, para atrair novos eleitores. Já Tebet, rejeitada por 12%, tem avançado em conversas pela convergência entre candidatos da terceira via, envolvendo partidos como União Brasil e o próprio PSDB.