O segundo turno, marcado para o dia 24 de abril, será uma reedição de 2017, quando os dois candidatos se enfrentaram nas urnas e Macron saiu vitorioso.
Cinco anos depois e o cenário na França é mesmo, levando a União Europeia e a OTAN a níveis de preocupação altos. O segundo turno das eleições francesas será, novamente, disputado entre Emmanuel Macron, atual presidente, e a candidata de extrema-direira, Marine Le Pen.
Desde janeiro, a França está na presidência rotativa da União Europeia. Le Pen, declaradamente contra o bloco econômico e a OTAN, sendo derrotada, reforçaria o apoio do país à UE, além de diminuir o fantasma da extrema-direita do continente mais uma vez.
A reeleição do primeiro-ministro húngaro, o ultranacionalista Viktor Orbán, para o seu quarto mandato consecutivo, na semana passada, foi um grande revés para Bruxelas. “Aderir ao populismo e à xenofobia, isso não é a França”, lembrou Macron após o resultado do primeiro turno.
Abaixou o tom
Na campanha de 2017, Le Pen, admiradora de Vladimir Putin, afirmou que, se eleita presidente francesa, iria concentrar esforços em deixar a União Europeia, acabar com o uso do euro no país e focar em deter a imigração ao país. Tudo isso seria feito a partir de referendos.
Estas ideias parecem não guiar mais sua agenda, porém, nestas eleições de 2022, a candidata do partido Reunião Nacional (RN) insiste que a lei francesa deve prevalecer sobre as regras da União Europeia, desafiando assim o tribunal superior do bloco.
Essa suavização de sua imagem, de acordo com o jornal britânico The Guardian, foi feito para, novamente, alcançar o segundo turno das eleições e atingir um público mais jovem. Segundo o jornal, “Le Pen criou uma distância entre sua persona sorridente – posando com seus gatos de estimação e sendo assediada por adolescentes para tirar selfies na rua – e a realidade radical de sua extrema-direita, o manifesto anti-imigração para manter a França para os franceses.”
“Ela prometeu um referendo para mudar a Constituição, a fim de restringir os direitos dos imigrantes e dos estrangeiros. Le Pen pretende priorizar os nativos sobre os não-nativos com moradia, emprego e saúde. Ela quer eliminar os direitos de nacionalidade para crianças nascidas e criadas na França de pais estrangeiros”, prossegue o jornal. “O fato de Le Pen estar agora mais perto do poder do que nunca é, em parte, resultado de sua própria reformulação da estratégia política.”
Vários deputados, de diferentes grupos políticos do Parlamento Europeu, pediram aos franceses para se mobilizar e barrar a extrema-direita na França.
Ameaça real
Marine Le Pen representa uma ameaça real para a União Europeia e Otan. Nas próximas duas semanas, até o segundo turno das eleições francesas, ambas instituições vão estar acompanhando de perto a reta final da campanha presidencial.
Bruxelas teme ver a França, um dos países fundadores e motor do bloco europeu, cair nas mãos da extrema-direita eurocética. Entre suas promessas, a líder do Reunião Nacional (RN) deixou claro seu desejo da França, a única potência nuclear da União Europeia, não mais participar da Otan, “para não ficarmos mais presos em conflitos que não são nossos”, declarou.
Apesar de Le Pen ter condenado a invasão da Rússia na Ucrânia, ela desfruta de ótimas relações com o Kremlin e, em 2014, recebeu um empréstimo de € 9 milhões de um banco russo para o seu partido. Nestas eleições, a família Le Pen – cujo pai Jean-Marie disputou e perdeu contra o então presidente Jacques Chirac em 2002 – nunca esteve tão perto do poder.
Pesquisas de opinião acreditam que a disputa acirrada do segundo turno dificulta as previsões, mesmo com a vantagem mínima para o presidente Emmanuel Macron.