Partido acredita que a sigla de Boulos restringiria o alcance da chapa junto ao eleitorado conservador
F SÃO PAULO – O pré-candidato ao Governo de São Paulo Fernando Haddad (PT) afirmou que foi o único prefeito paulistano a deixar o cargo sem uma avaliação do Datafolha dos quatro anos de sua gestão. Isso não é verdade.
Também não é correta a afirmação de que a gestão de Haddad não teve avaliação do instituto em seu último semestre no cargo, assim como a declaração de que teria sido inédita a avaliação da gestão de João Doria (PSDB) após o primeiro mês do mandato, em fevereiro de 2017.
Haddad fez tais declarações na sabatina promovida em maio pela Folha e pelo UOL com pré-candidatos ao governo. A seguir, em sabatina promovida pelo jornal O Globo, ele repetiu que teria sido o único prefeito a deixar o cargo sem avaliação do Datafolha.
Na sabatina Folha/UOL, Haddad afirmou que essa situação prejudicou a avaliação de seu mandato “em virtude do fato de que todos os prefeitos têm a avaliação de último mês; eu sou o único caso que não tenho”.
A última pesquisa Datafolha referente à gestão de Haddad foi realizada em 23 e 24 de agosto de 2016, quando completou três anos e oito meses no cargo. O mesmo ocorreu com a prefeita Luiza Erundina (à época PT, hoje PSOL), que teve sua gestão avaliada no mesmo período em 1992.
No caso de Jânio Quadros (PTB), cujo mandato teve duração de três anos, a última pesquisa foi realizada quando completou dois anos e oito meses na prefeitura, em 1988.
Na ocasião do último levantamento Datafolha sobre a prefeitura de Haddad, 46,5% consideraram a gestão petista ruim ou péssima e 34,5% a avaliaram como regular, ante 16,7% que a classificaram como ótima ou boa.
As gestões dos prefeitos Paulo Maluf (à época PPB), Celso Pitta (também PPB) e Marta Suplicy (à época PT, hoje sem partido), de fato, tiveram avaliação do Datafolha feita no último mês de seus mandatos, em dezembro. Nos casos de José Serra (PSDB) e João Doria (PSDB) a pesquisa não foi feita pois eles renunciaram à prefeitura para concorrer ao governo estadual antes de concluírem dois anos de mandato.
Gilberto Kassab (à época DEM, hoje PSD), por sua vez, era vice de Serra, assumiu a prefeitura em 31 de março de 2006 e elegeu-se prefeito nas eleições de 2008. O mesmo ocorreu com Bruno Covas (PSDB) em relação a Doria, nas eleições de 2018. Assim, a periodicidade das pesquisas, nos dois casos, é distinta, já que assumiram um mandato em andamento e foram eleitos no pleito seguinte.
Na sabatina, Haddad afirmou ainda que o último Datafolha sobre a sua gestão ocorreu “no auge do processo de impeachment” da presidente Dilma Rousseff (PT). “Ou seja, faltando um mês para o afastamento definitivo da Dilma do cargo, o Datafolha fez uma avaliação do meu governo”, disse o pré-candidato. Isto é verdadeiro, embora o petista tenha errado nas datas —não faltava um mês para o afastamento definitivo da presidente, mas alguns dias.
Dilma foi afastada provisoriamente da Presidência em 12 maio de 2016, quando seu vice, Michel Temer (MDB), assumiu o cargo após decisão do Senado. O processo de impeachment, entretanto, foi concluído definitivamente três meses depois, em 31 de agosto de 2016, seis dias após a realização da pesquisa Datafolha referente à gestão de Haddad.
E o Datafolha jamais justificou o fato de não ter feito [a pesquisa no último mês]”, disse também o pré-candidato. “Alegaram falta de verba, mas no mês seguinte, em janeiro de 2017, o dinheiro apareceu e fizeram uma avaliação de primeiro mês de mandato do João Doria (PSDB), o que é bastante estranho, porque nenhum prefeito teve uma avaliação de um mês de mandato. Então, não fizeram a avaliação de fim de mandato de um prefeito que concluiu quatro anos de governo, e fizeram do seu sucessor de maneira inédita com um mês de mandato”.
Isto não é verdade. Embora levantamentos feitos entre os três e seis meses de mandato (Jânio, Erundina, Pitta, Marta, Serra e o próprio Haddad) sejam mais comuns, o ex-prefeito Paulo Maluf também teve sua gestão avaliada no primeiro mês de mandato, de forma que é errado afirmar que a pesquisa nesse período é “inédita”.
Questionado sobre a periodicidade das pesquisas, o Datafolha afirma que “não tem uma frequência definida de avaliação dos governantes” e que a realização do levantamento depende de solicitação da Folha.
Sobre o levantamento da Folha, o ex-prefeito Fernando Haddad, por meio de sua assessoria, disse que “as informações só reforçam a sua intuição de que o critério para definir a periodicidade das pesquisas é político. Afinal, só João Doria e Paulo Maluf tiveram suas administrações avaliadas no primeiro mês de governo. E só Haddad e Erundina não tiveram a avaliação de seu governo após o pleito eleitoral”.