Pode haver uma competição sobre a linha econômica a ser seguida caso a senadora pelo Mato Grosso do Sul assuma o Ministério do Planejamento
Nesta terça (27), em apuração da CNN, fontes afirmam temer um começo de governo duro para Lula (PT) em 2023 e o motivo para isso é a possível disputa de ideias sobre a linha econômica do governo com a dobradinha Fernando Haddad, que é alinha à esquerda, no Ministério da Fazenda, e Simone Tebet, mais liberal, no Ministério do Planejamento.
“A Simone pode ser o inferno do Fernando. Pode disputar a linha econômica todo dia”, disse uma das fontes do PT consultadas.
O futuro ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse hoje (27) que Tebet sinaliza que aceitará o convite do presidente eleito para comandar o Ministério do Planejamento.
“A gente recebeu sinalização positiva”, afirmou Padilha em entrevista coletiva.
Segundo apurou a CNN com dirigentes do partido, a senadora aceitou abrir mão do controle dos bancos públicos, desde que a iniciativa seja transferida para o Planejamento.
A articulação tem sido conduzida na manhã desta terça-feira entre o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, e Alexandre Padilha.
O acordo final, no entanto, só será fechado após encontro entre Tebet e Lula, que deve ocorrer ainda hoje.
Lula passou a manhã em contato com dirigentes emedebistas na tentativa de chegar a um acordo para que Tebet assuma o Planejamento.
Terceira colocada na corrida eleitoral para a Presidência da República em 2022, com 4,16% dos votos, Tebet declarou apoio a Lula durante a campanha no segundo turno.
Defensora de privatizações
O programa de governo defendido pela senadora Simone Tebet na campanha presidencial virou o principal obstáculo para que o PT aceite transferir o bilionário Programa de Parceria e Investimentos (PPI) para o Ministério do Planejamento.
Tebet sinalizou que aceitará assumir o Planejamento. O motivo para o obstáculo é que o programa defendido pela senadora difere de pontos-chave defendidos pela transição e pelo PT.
O documento, por exemplo, defendia a realização no primeiro biênio a privatização das Companhias Docas, cujos portos de Santos, Bahia e Pará já integram a carteira do PPI para serem privatizados. A transição de governo, porém, tem visão oposta.
O futuro ministro dos Portos e Aeroportos, Marcio França, já se posicionou contrário à privatização em alinhamento com uma posição defendida pelo grupo de trabalho da transição.
Outro ponto de divergência do programa de Tebet com a transição é que o documento previa uma nova rodada de concessões com a inclusão de grandes aeroportos como Galeão e Santos Dumont — ambos no Rio de Janeiro —, mas a equipe de transição sinalizou que pararia para estudar melhor.
Tebet também defendeu que leilões de saneamento fossem acelerados, mas o PT deixou claro ter ressalvas ao novo marco legal de saneamento e não descarta revê-lo.