Presidente afirma que 222 mil reservistas já foram convocados e que recrutamento parcial deve se concluído em duas semanas
Após pesados bombardeios em grandes cidades na Ucrânia, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou, nesta sexta (14), que não há planos para novos ataques “maciços” no país. Segundo o mandatário, o objetivo não é destruir o país invadido.
— Hoje, há outros objetivos. Por enquanto. Veremos mais tarde — declarou o presidente russo em entrevista coletiva após uma cúpula regional em Astana, no Cazaquistão. — Não temos como objetivo destruir a Ucrânia.
A semana ficou marcada por fortes ataques russos contra cidades como Kiev, capital da Ucrânia, após uma explosão que derrubou um trecho de uma ponte que liga a Península da Crimeia ao território continental da Rússia. Os principais alvos foram estruturas de energia e comunicações. Foram os mais pesados e amplos ataques desde o início da guerra, em fevereiro.
Nas declarações desta sexta, no entanto, Putin baixou o tom e afirmou que não espera expandir a mobilização de reservistas para além dos 300 mil anunciados no mês passado. Segundo o presidente russo, a chamada “mobilização parcial” será concluída em poucas semanas, com 222 mil reservistas já mobilizados. Até agora, cerca de 16 mil já estão lutando na Ucrânia.
— Não há necessidade de mais esforços desse tipo no futuro previsível — disse. — Não é agradável o que está acontecendo agora, mas [se a Rússia não tivesse iniciado sua ofensiva na Ucrânia], estaríamos na mesma situação um pouco mais tarde, apenas as condições teriam sido piores para nós. Então, estamos fazendo tudo certo.
A ordem repentina de Putin, no mês passado, de convocar centenas de milhares de reservistas — o primeiro movimento desse tipo desde a Segunda Guerra Mundial — desencadeou a fuga de mais de 300 mil russos do país. A “mobilização parcial” das tropas, que Moscou admitiu posteriormente ter começado com erros, foi uma resposta à bem sucedida contraofensiva de Kiev, iniciada em agosto, com o apoio de armas enviadas pelo Ocidente e uma estratégia de ações localizadas.
Nesta sexta, no entanto, forças apoiadas pela Rússia fizeram alguns avanços no Leste da Ucrânia, mesmo com o enfraquecimento do domínio de Moscou no Sul. Segundo uma atualização da Inteligência britânica, as forças lideradas pela milícia militar privada russa Wagner Group capturaram as aldeias de Optyine e Ivangrad ao Sul da cidade de Bakhmut, o primeiro avanço desse tipo em mais de três meses.
Na quinta, a Rússia anunciou que vai ajudar na retirada de moradores de áreas controladas pelas forças russas na região de Kherson, oficialmente anexada por Moscou, mas atualmente sob intenso ataque da Ucrânia, que tenta retomar parte dos territórios ocupados. Espera-se que os primeiros civis cheguem à região de Rostov, na Rússia, que faz fronteira com o Leste da Ucrânia no fim do dia.
Após os reveses russos, a Bielorrússia, aliada próxima de Moscou, ordenou que tropas russas se mobilizassem perto da Ucrânia nesta semana, levantando preocupações de que possa enviar suas forças através da fronteira pela primeira vez.
Segundo estimativas anteriores, a Rússia precisaria de cerca de 300 mil militares para manter as posições na Ucrânia, mesmo sem novas tentativas de expansão. Caso sejam mandados para a guerra rapidamente, os novos soldados poderiam, a curto prazo, deter os avanços ucranianos e retomar algumas áreas estratégicas.
Em seu discurso nesta sexta, Putin disse ainda estar “aberto” a negociações com a Ucrânia e à mediação de países como Turquia e Emirados Árabes Unidos, e criticou as autoridades ucranianas por se recusarem a conversar com ele. Sobre os EUA, disse ainda que não vê “necessidade” de falar com o presidente Joe Biden, mesmo no âmbito da cúpula do G20.
— Não vejo necessidade, atualmente não há nenhuma plataforma de negociações — disse Putin, que não decidiu ainda se comparecerá ao encontro previsto em novembro na Indonésia.