Presidente russo cancelou ataque a siderúrgica onde soldados inimigos estão entrincheirados
AFP e REUTERS – O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou nesta quinta-feira (21) que suas tropas tomaram o controle da cidade portuária de Mariupol após dois meses de cerco, apesar de centenas de soldados ucranianos ainda resistirem dentro de uma grande siderúrgica.
“O fim do trabalho de libertação de Mariupol é um sucesso”, declarou Putin ao ministro da Defesa, Serguei Shoigu, em um encontro exibido pela televisão.
Após quase dois meses de cerco e bombardeios, as últimas tropas ucranianas estão escondidas nas enormes siderúrgicas Azovstal nesta cidade no Mar de Azov, estratégica no plano de Moscou de unir os territórios pró-russos do Donbas e a península da Crimeia, já anexado em 2014.
Os ultimatos lançados pela Rússia não levaram à rendição desses soldados. Um de seus comandantes, Sviatoslav Palamar, pediu aos países ocidentais “garantias” de segurança para deixar o complexo onde, segundo Kiev, também há cerca de 1.000 civis.
A Ucrânia não diz quantos militares permanecem nas instalações. O ministério da Defesa russo afirma que são quase 2.000.
Putin ordenou nesta quinta o cerco à fábrica, mas sem um ataque, indicando que uma ofensiva provocaria muitas mortes.
“Considero que o ataque proposto na zona industrial não é apropriado. Ordeno o cancelamento”, disse o presidente russo.
Putin prometeu salvar a vida dos que se renderem.
Proponho mais uma vez a todos aqueles que não entregaram as armas que o façam, o lado russo garante a vidas e que serão tratados com dignidade”, afirmou.
Por sua vez, Oleksi Arestovich, assessor da Presidência da Ucrânia, disse que a Rússia decidiu bloquear a siderúrgica porque não consegue tomá-la à força.
“Eles fisicamente não podem tomar Azovstal, eles entenderam isso, sofreram grandes perdas lá. Nossos defensores continuam segurando”, disse Arestovich nesta quinta-feira.
“Também pode ser explicado pelo fato de terem deslocado parte de suas forças [de Mariupol] para o norte, a fim de reforçar as tropas que tentam cumprir seu objetivo principal… avançar para os limites administrativos das regiões de Donetsk e Lugansk.”
Na terça (19), o comandante da 36ª Brigada de Fuzileiros Navais da Ucrânia, força remanescente em Mariupol, afirmou que eles não iriam se render.
“Vamos continuar conduzindo e completando as operações militares que nos forem enviadas e não vamos depor nossas armas”, afirmou Sergi Volina ao jornal americano The Washington Post.
Ele argumentou que sua brigada não poderia repetir o erro de outras tropas ucranianas que acreditaram nas garantias de cessar-fogo de Moscou. “Ninguém acredita nos russos”, disse.
Volina foi enviado para Mariupol no início da invasão russa.
A pressão sobre a cidade no sudeste da Ucrânia é o símbolo de uma nova fase da guerra e compõe o que Kiev já chama de Batalha do Donbass, em referência à ofensiva de Moscou para tomar as duas províncias no leste do país das quais reconheceu a independência dias antes do início da invasão.