Fontes do PT ouvidas pelo blog disseram que a campanha foi pega de surpresa pelas afirmações do ex-presidente, que consideram ter potencial explosivo de desgaste de Lula junto a eleitores conservadores.
Uma vitória para Bolsonaro (PL). Assim que sua equipe de reeleição vê, e comemora, a recente fala do ex-presidente Lula (PT) em que defende o debate sobre o aborto no Brasil. A euforia é tanta que já estão sendo preparados materiais de campanha sobre o assunto.
A estratégia de sua equipe é atrelar a Lula e ao PT a imagem que, se eleitos, irão dar o aval para propostas polêmicas dentro da sociedade brasileira, que é considerada conservadora e tem muita rejeição de boa parte dos eleitores, como a legalização do aborto.
Um ministro do governo Bolsonaro, em tom de ironia, recorreu a uma frase atribuída a Napoleão Bonaparte para resumir nesta quinta-feira (7) a avaliação feita no Planalto após essa e outras falas do ex-presidente Lula nos últimos dias: “Não interrompa seu adversário quando ele estiver cometendo um erro”.
Além de defender que a liberação aborto seja debatida como tema de saúde pública, Lula disse que a classe média ostenta e sugeriu que as pessoas busquem endereços de parlamentares e cobrem sua atuação no Legislativo na casa deles — e não em protestos em Brasília.
Todas essas falas pegaram de surpresa a equipe de campanha do candidato petista. Eles consideraram que as falas foram erráticas e com potencial de desgaste de Lula junto dos eleitos mais conservadores, como os religiosos, onde Bolsonaro domina.
Ao tentar explicar o que levou Lula a fazer essa mudança de tom, petistas disseram que Lula centraliza e não delega decisões, tampouco debate temas polêmicos que vai abordar em entrevistas, debates e discursos. Além disso, afirmam que, como ele costuma falar de improviso e sem comunicar com antecedência a seus aliados, é preciso haver uma linha de estratégia de comunicação, caso contrário a campanha não tem como rebater em tempo real, na guerra virtual, o que chamam de “distorções “ e “edições” da fala do ex-presidente.
Ou seja, Bolsonaro, na visão do PT, leva vantagem na guerra de narrativas nas redes sociais, praticamente falando sozinho.
No caso específico do aborto, também provocou espanto entre petistas que Lula não tenha sido provocado sobre o tema — pois não era uma entrevista — e que foi por livre e espontânea vontade a fala sobre o tema, considerado ponto fraco da campanha do PT. Motivo: o PT sabe que, se houver qualquer brecha, Bolsonaro fará uso do “erro” para esvaziar o apoio a Lula junto a religiosos — e é exatamente isso que a campanha do candidato do centrão já está fazendo nas redes e vai turbinar no período eleitoral.
Diante da preocupação com novos desgastes, a pré-campanha de Lula cobra do ex-presidente a definição, com urgência, do time titular da campanha que será autorizado a falar e executar estratégias de comunicação.
Ou seja, querem blindar e poupar Lula — para evitar deslizes de comunicação que poderão ser explorados eleitoralmente por adversários — e pedem que ele terceirize debates e temas que possam trazer desgastes para a campanha.
Ao programa “Em Foco”, na Globonews, que foi ao ar na quarta-feira (6), Gabriel Chalita, um dos coordenadores da campanha de Lula e Alckmin — e responsável pela interlocução da chapa com religiosos — admitiu que, se a campanha subestimar a pauta de costumes, perderá a eleição.
Alckmin, que já se declarou contrário ao aborto em eleições passadas, também não foi avisado pelo ex-presidente Lula sobre a intenção de levantar esse debate.
A campanha também cobra que seja alinhada, entre os dois, os temas que cada um trabalhará junto ao eleitor para ampliar o voto de centro e mais conservador do ex-presidente.