Moradores serão questionados se desejam se juntar à Rússia em quatro regiões ocupadas da Ucrânia
Se inicia nesta sexta (23) o referendo realizado pelas regiões separatistas da Ucrânia e que estão ocupadas por forças russas para saber se o povo irá aceitar que esses territórios sejam incorporados à Federação Russa. A votação segue até o próximo dia 27.
No referendo, os moradores dessas áreas serão perguntados se desejam se junta à Rússia em quatro regiões da Ucrânia. Em Donetsk e Kherson, a votação presencial ocorrerá somente no último dia.
Em Donetsk, a pergunta do referendo será apresentada apenas em russo. O presidente do Conselho do Povo – um órgão não eleito – na autodeclarada República Popular de Donetsk, Vladimir Bidyovka, afirmou que o russo é a “língua do Estado”.
As perguntas na cédula variam um pouco dependendo de cada região.
Na República Popular de Donetsk (DPR, em inglês), a pergunta será: “Você é a favor da adesão do DPR à Federação Russa sobre os direitos de um sujeito da Federação Russa?”. A autodeclarada República Popular de Luhansk usa a mesma frase.
Em Kherson, a pergunta será: “Você é a favor da secessão da região de Kherson do estado da Ucrânia, a formação de um estado independente pela região de Kherson e sua adesão à Federação Russa como súdito da Federação Russa?”
No Kherson ocupado, Marina Zakharova – que preside a comissão eleitoral – disse que cerca de 750.000 pessoas devem votar.
E nas partes ocupadas de Zaporizhzhia, a pergunta está em russo e ucraniano, e diz: “Você vota pela secessão de Zaporizhzhia Oblast da Ucrânia, a formação de Zaporizhzhia Oblast como um estado independente e sua adesão à Federação Russa como uma subentidade da Federação Russa?”
A Comissão Eleitoral Central da Rússia disse que participará do monitoramento dos referendos em todas as quatro áreas.
Nas regiões de Luhansk e Zaporizhzhia, as autoridades locais pediram às pessoas que votem de casa, dizendo que as urnas podem ser trazidas até elas. Um vídeo da comissão eleitoral de Luhansk diz: “Você pode votar diretamente de casa! De 23 a 27 de setembro, você pode votar em casa”.
Antes das votações, as autoridades pró-Rússia estão tentando entusiasmar os eleitores. A agência de notícias estatal russa RIA Novosti mostrou um pôster sendo distribuído em Luhansk, que dizia “A Rússia é o futuro”.
“Estamos unidos por uma história de 1.000 anos”, diz. “Durante séculos, fomos parte do mesmo grande país. A desintegração do Estado foi um enorme desastre político… É hora de restaurar a justiça histórica.”
Decisão sobre o referendo
A realização do referendo, segundo o líder de Luhansk, foi muito esperada. “Todos nós esperamos há oito longos anos por um referendo sobre ingressar na Rússia. Tem sido nosso sonho comum e nosso futuro comum. E assim aconteceu. O referendo vai acontecer”, explicou Leonid Pasechnik.
A decisão por realizar os referendos ocorre depois que o Kremlin sofreu uma contraofensiva no campo de batalha e perdeu territórios no nordeste da Ucrânia.
Mas, ao ser questionado sobre o assunto, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, afirmou que o povo deve decidir seu destino.
O que pensam as autoridades mundiais
Especialistas dizem que parece improvável que um processo tão apressado, em áreas onde muitos eleitores vivem perto da linha de frente do conflito, possa ser bem-sucedido ou justo.
Além disso, devido ao deslocamento interno generalizado desde o início do conflito, os bancos de dados de votação provavelmente estão desatualizados. Em Kherson, por exemplo, autoridades ucranianas disseram que cerca de metade da população que vivia no local partiu após o início da guerra.
Os planos foram condenados pelo governo da Ucrânia e seus aliados no Ocidente como “ilegítimos” e “uma farsa”. A União Europeia disse que não reconhecerá os resultados e indicou que está preparando um novo pacote de sanções contra a Rússia.
Pelo Twitter, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, alegou que as votações não têm legitimidade e não mudam a natureza da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Disse ainda que a comunidade internacional deve condenar essa violação do direito internacional e apoiar os ucranianos.
Os Estados Unidos também afirmaram que os referendos são uma farsa ilegal e que não reconhecerão os resultados.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse em um discurso televisionado à nação, divulgado nesta quarta-feira (21), que a Rússia dá boas-vindas aos referendos separatistas em território ucraniano controlado pela Rússia e fará tudo para apoiá-los.
Para o analista de Internacional da CNN, Lourival Sant’Anna, o referendo é “uma tentativa de intimidar a Ucrânia e a Otan dizendo assim: isso não são territórios ocupados, são territórios russos. Vocês estão atacando a Rússia. Portanto, nós temos o direito de declarar guerra, de mobilizar nossa população”.
“É um passo que o [Vladimir] Putin não pretendia dar, mas está sendo forçado por causa da derrota dele no terreno”, finalizou.