Polícia Federal inicia a partir desta sexta-feira exame de DNA nos corpos encontrados no Amazonas. Prosseguem as buscas pelo barco em que indigenista e jornalista navegavam antes de serem mortos.
O Globo – Após a localização dos restos mortais de dois corpos e a confissão de um suspeito preso, a Polícia Federal inicia uma nova etapa na investigação que busca esclarecer o que aconteceu com o indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, que estão desaparecidos desde o dia 5 de junho no Vale do Javari, na Amazônia. Segundo a PF, o principal suspeito, Amarildo da Costa de Oliveira, o Pelado, admitiu o duplo assassinato por “disparo de arma de fogo”.
A partir desta sexta-feira, os peritos começarão a fazer o exame de DNA no material genético encontrado no meio da floresta nas proximidades da comunidade ribeirinha Cachoeira, no extremo Oeste do Amazonas. A PF, Marinha e um grupo de indígenas também continuaram hoje tentando localizar o barco que era usado pela dupla e que teria sido afundado pelos criminosos para ocultar o assassinato. As armas e munições utilizadas no crime também estão sendo procuradas.
Escavados num igapó a 3 quilômetros da margem do Rio Itaquaí, os “remanescentes mortais” — como definiu o ministro da Justiça, Anderson Torres — chegaram Brasília no fim da tarde desta quinta-feira.
A capital federal abriga a sede do laboratório de criminalística da PF – o inquérito, no entanto, continua a ser conduzido de Manaus. A previsão é que, dependendo da qualidade da amostra, o exame fique pronto até o fim da próxima semana.
— O exame de DNA trará robustez à investigação não só por identificar as vítimas, mas também para comparar com eventuais vestígios que serão encontrados nos locais. E a partir daí se monta a dinâmica do crime. Geralmente, o exame é feito com um prazo de 30 dias, mas é possível que seja concluído em até 10 dias — explica o presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF), Marcos Camargo.
Os peritos ainda devem fazer o exame necroscópico nos corpos para tentar aferir o que causou a morte dos dois – quantos disparos foram feitos e se eles realmente faleceram por arma de fogo.
A PF não quis informar em que estado eles foram encontradas, mas há a suspeita de que foram cortados e queimados antes de serem enterrados. A PF chegou ao local de “dificílimo acesso” por indicação do Amarildo durante a sua confissão, segundo o superintendente da corporação no Amazonas, Eduardo Alexandre Fontes.
Uma semana antes, indígenas do Vale do Javari ajudaram os policiais a encontrar uma mochila, um notebook e chinelos do jornalista e do indigenista que estavam amarrados em uma árvore submersa na água, a alguns quilômetros de onde foram localizados os restos mortais.
Paralelamente ao processo de confirmação de materialidade do crime, a PF busca avançar na questão da autoria e motivação.
— A princípio, ele (Amarildo) alega que foi disparo de arma de fogo, mas temos que aguardar a perícia realmente para ela dizer, identificar qual foi a causa da morte, as circunstâncias e a motivação aliado ao que nós temos produzido e vamos produzir — afirmou o superintendente do Amazonas, nesta quarta-feira.
Além de Amarildo, também foi preso o irmão dele, Oseney Oliveira, conhecido como Dos Santos, na última terça-feira. Os investigadores apuram a participação de pelo menos outras três pessoas no crime. E não descarta a realização de novas detenções.
Uma reconstituição do crime já foi feita nesta semana, mas outra ainda deve ser realizada com todo o trajeto que teria sido percorrido pela dupla. Praticamente toda a dinâmica do crime ainda precisa ser elucidada. Testemunhas relataram ter visto Amarildo e outros suspeitos perseguindo a lancha usada por Pereira e Phillips – na ocasião, o suspeito estaria portando uma espingarda e cintos de munição.
Também falta avançar na apuração do que realmente motivou o duplo homicídio e se há algum mandante por trás. O indigenista sofria ameaças de pescadores e caçadores ilegais da região. O GLOBO teve acesso a uma carta enviada à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) na qual a vítima e Beto Marubo, membro da entidade, são ameaçados de morte.
Saiba quais são os próximos passos da investigação do caso Bruno e Dom:
- Realizar o exame de DNA nos restos mortais dos dois corpos encontrados no Vale do Javari. Estimativa é que a perícia seja concluída até o fim da próxima semana
- Localizar a embarcação em que Bruno e Dom navegavam no Rio Itaquaí, no extremo Oeste do Amazonas. O barco foi afundado, mas o local já foi indicado por um suspeito preso
- Encontrar as armas e munições utilizadas no crime. Testemunhas relataram que viram o principal suspeito portando uma espingarda e um cinto de balas
- Fazer a análise necroscópica dos corpos para aferir se as vítimas realmente morreram de arma de fogo e quantos disparos foram feitos
- Apurar a eventual participação de outras pessoas e de um possível mandante do assassinato