Senador eleito em Alagoas diz que Lula deve avaliar quem ajudará seu projeto “sem perpetuar orçamento secreto”
Poder 360 – O ex-governador de Alagoas e senador eleito Renan Filho (MDB) disse que a rivalidade local com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não afetará a postura do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em relação à sucessão no comando da Casa. Lira já articula o apoio de um “blocão” partidário para, em fevereiro de 2023, ser conduzido a mais 2 anos no cargo.
“Lula precisa olhar quem vai ajudar a levar o seu projeto adiante de maneira verdadeira, de maneira transparente, sem oportunismos, sem querer perpetuar o orçamento secreto, que drenou a capacidade de investimento do país para privilegiar interesses clientelistas e as eleições individualmente para o Congresso Nacional”, declarou o emedebista em entrevista.
Renan Filho e seu pai, o senador Renan Calheiros, apoiaram Lula desde o início da campanha. São 2 dos principais aliados do petista no MDB –e rivais ferrenhos de Lira, que declarou e pediu voto no presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Nunca colocamos a disputa alagoana acima do interesse nacional. [Lula] ouve sempre os dois lados e, toda vez que foi necessário ele arbitrar o caminho, ele arbitrou pelo caminho correto”, afirmou Renan Filho. O MDB elegeu 42 deputados para a próxima legislatura, 5 a mais do que a atual bancada, com 37.
No último domingo (30/10), menos de 1 hora depois de a apuração das urnas confirmar a vitória de Lula no 2º turno, Lira fez um pronunciamento para parabenizá-lo e sinalizar sua abertura ao diálogo com o presidente eleito.
Aliados de Lira, envolvidos na formação de um bloco de cerca de 300 deputados para garantir sua reeleição ao comando da Câmara, dizem que a relação do chamado “centrão” com o governo eleito dependerá do nível de interferência de Lula na disputa interna.
Esses interlocutores citam justamente a rivalidade entre os grupos políticos dos Calheiros e dos Lira em Alagoas como um potencial fator de pressão para Lula apoiar um nome que se oponha ao atual presidente da Câmara.
Na terça-feira (1), a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse a aliados que Lula não se envolverá na sucessão ao comando da Casa. Ela participou de reunião virtual com líderes de partidos da coligação que apoiou o candidato petista.
Depois de alguns dias de descanso na Bahia, Lula deve viajar a Brasília para visitar Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) –mais um que deve buscar a reeleição em fevereiro. A ideia é fazer um gesto institucional. É possível que autoridades do Judiciário também entrem na agenda.
Na entrevista, Renan Filho disse que, neste momento, os líderes políticos precisam conversar e identificar quais partidos serão aliados do governo Lula “sob qualquer hipótese” e, a partir daí, “verificar os caminhos”. Atualmente, Lira e Pacheco estão fazendo o mesmo mapeamento, acrescentou.
“Não tenho, neste momento, condição de dizer se o presidente Lula deve apresentar um candidato [à Presidência da Câmara], apoiar um candidato de outro grupo ou mesmo enfrentar o Arthur Lira ou se aproximar do Arthur Lira. Quem deve dizer isso é o próprio presidente, porque essa é uma pergunta muito desafiadora”, declarou o senador eleito.
Questionado sobre a sucessão no comando do Senado, o emedebista elogiou Pacheco e afirmou que ele está “alguns passos na frente na relação com o governo [eleito] do que a relação da Câmara neste momento”.
Disse, contudo, que, antes de um eventual apoio à sua reeleição, precisa verificar as posições de Pacheco sobre como o Senado pode acelerar medidas do governo eleito e fazer um “plano emergencial” para enfrentar as dificuldades de 2023, “que será um ano muito difícil por conta das condições econômicas colocadas”.