Desconexão levantou preocupações de a Rússia está tentando desviar a eletricidade para partes da Ucrânia ocupadas pelos russos
Pela primeira vez em sua história, a usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, foi desligada da rede elétrica do país nesta quinta (25).
Durante a quinta, o fornecimento de energia da usina foi restaurado, mas seis reatores ainda continuam desligados, informou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Segundo a operadora nuclear da Ucrânia, Energoatom, incêndios em uma usina termoelétrica nas proximidades fizeram com que a última linha de energia restante de Zaporizhzhia se desconectasse duas vezes. As outras três linhas foram “perdidas anteriormente durante o conflito”, disse o órgão de vigilância nuclear.
A Rússia foi a culpada pelo desligamento. “As ações dos invasores causaram uma desconexão completa da ZNPP (usina nuclear de Zaporizhzhia) da rede elétrica – a primeira na história”, diz um comunicado da operadora.
O governador regional russo instalado no local culpou a ação militar ucraniana pelas interrupções e acrescentou que “o trabalho estava em andamento para restaurar o fornecimento para a região e lançar a segunda unidade de energia”.
Zaporizhzhia gera cerca de 20% da eletricidade da Ucrânia e um corte prolongado da rede nacional seria um grande desafio para a Ucrânia à medida que o clima mais frio se aproxima.
A usina nuclear, que é a maior da Europa, está sob controle russo desde março. Os confrontos em torno do complexo provocaram preocupação generalizada e temores de um desastre.
A Ucrânia acusou as tropas russas de usar a usina como escudo, arriscando um desastre potencial na usina. O Kremlin, por sua vez, acusou repetidamente as forças ucranianas de bombardear o local.
Também aumentaram os pedidos de inspetores da AIEA para visitar a fábrica. “Quase todos os dias há um novo incidente na usina nuclear de Zaporizhzhya ou perto dela. Não podemos perder mais tempo. Estou determinado a liderar pessoalmente uma missão da AIEA à usina nos próximos dias para ajudar a estabilizar a situação de segurança e proteção nuclear lá”, afirmou o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, em nota
Anteriormente, ele relatou ao “France 24” que a entidade estava “muito, muito próxima” de um acordo com a Rússia.
Uma “situação perigosa”
Mas a desconexão de quinta-feira levantou preocupações de que Moscou está tentando desviar a eletricidade produzida em Zaporizhzhia para partes da Ucrânia ocupadas pelos russos.
Essa opinião foi apresentada na segunda-feira (22) pelo chefe da Energoatom, Petro Kotin, que acusou a Rússia de tentar desconectar a usina da rede ucraniana “e depois tentar reconectá-la ao sistema russo”, em entrevista à CNN.
Ele disse que a única maneira de fazer isso exigiria um desligamento total da planta “e um corte completo de todas as linhas que estão conectadas ao sistema ucraniano”. Como as frequências agora são diferentes, a frequência russa e a frequência ucraniana – estamos sincronizados com o sistema europeu, e eles estão sincronizados com a Rússia.”
Ele, no entanto, aponta que, uma vez danificada a quarta linha, “teremos mais apagões em toda a usina”, disse ele, descrevendo como uma “situação perigosa” porque a usina dependeria apenas de geradores movidos a diesel, que são não confiáveis ”porque precisam de combustível para seu trabalho e também … têm capacidade limitada para estar constantemente em modo de trabalho”.
As usinas nucleares usam vários sistemas de segurança auxiliares, como geradores a diesel e conexões de rede externa, para manter os reatores resfriados. Se esses sistemas falharem, o reator nuclear poderia aquecer rapidamente, provocando um colapso nuclear.
Citando a Ucrânia, a AIEA disse, na quinta-feira, que a usina “permaneceu conectada a uma linha de 330 kV da usina termelétrica próxima que pode fornecer eletricidade de reserva, caso necessário”.
O porta-voz principal do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Vedant Patel, pontuou que “qualquer tentativa de desconectar” a usina nuclear de Zaporizhzhia “da rede elétrica ucraniana e redirecionar para áreas ocupadas é inaceitável”.
“Está claro que o bombardeio da Rússia e a apreensão de usinas de energia e infraestrutura da Ucrânia são parte de sua estratégia para criar crises de energia na Europa”. alegou durante uma entrevista coletiva com os repórteres nesta quinta.
A principal autoridade do Departamento de Estado dos EUA, Bonnie Jenkins, também apontou na quinta-feira que as ações da Rússia na usina “criaram um sério risco de um incidente nuclear, uma liberação de radiação perigosa que pode ameaçar não apenas as pessoas e o meio ambiente da Ucrânia, mas também afetar países vizinhos e toda a comunidade internacional”.
Jenkins, que é subsecretário de Estado para Controle de Armas e Segurança Internacional, pediu que a Rússia cesse suas atividades militares em torno da usina, enfatizando a importância de uma visita da AIEA.