Autoridades de saúde da Holanda e dos Estados Unidos relataram que pacientes estão bem, mas alertaram sobre disseminação do vírus e risco maior para agravamento na população pediátrica
O Globo – Uma criança com menos de dez anos foi diagnosticada com a varíola dos macacos em Amsterdã, na Holanda, segundo o relato do caso recém-publicado na revista científica Eurosurveillance. Na última sexta-feira, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) também anunciaram os dois primeiros casos da doença na população infantil. O número real de diagnósticos pediátricos, no entanto, pode ser maior. Em coletiva de imprensa no final de junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já afirmava monitorar três casos em menores de 18 anos.
A criança holandesa testou positivo para o vírus monkeypox após retornar de uma viagem de uma semana à Turquia. De acordo com a descrição do caso, ela começou os sintomas com duas lesões na pele, localizadas na bochecha e na região da mandíbula. Os médicos prescreveram cremes antifúngicos e antibióticos, acreditando se tratar de uma infecção leve na pele, porém mais erupções cutâneas apareceram nos dias seguintes.
Quando o número de lesões chegou a 20, e em diversas partes do corpo, o paciente foi encaminhado para o Hospital de Crianças Emma, na capital Amsterdã, já com suspeita para a varíola dos macacos. Os médicos contam que a criança estava estável e sem febre, além de não apresentar erupções na região oral ou genital – local onde tem aparecido grande parte das lesões relacionadas ao surto atual da doença. Após realizar o exame PCR, foi confirmado o diagnóstico de varíola dos macacos.
Embora não se se saiba se o vírus monkeypox pode estar sendo transmitido por fluidos genitais, grande parte dos diagnósticos foram relacionados a relações sexuais. Por isso, os especialistas do hospital avaliaram a possibilidade de a criança ter sofrido um episódio de abuso, que foi descartada após extensa análise médica e testagem negativa para infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
As autoridades de saúde holandesas realizaram o rastreamento de contatos e não identificaram pessoas com comprovação ou suspeita para infecção pela varíola, não identificando assim a fonte da contaminação. O paciente foi isolado, e as pessoas próximas da criança – os pais, um amigo e um irmão – receberam uma dose da vacina Imvanex, da Bavarian Nordic, que está sendo oferecida a indivíduos considerados em risco de exposição em alguns países europeus, além de outros como Estados Unidos e Canadá.
Após uma semana, a carga viral do monkeypox caiu para níveis não detectáveis, e o paciente teve uma recuperação total, contam os médicos. Nenhum caso secundário em pessoas que tiveram contato com a criança foi identificado.
“Com esta descrição de caso, desejamos conscientizar os médicos de que o monkeypox pode se desenvolver em crianças e estar presente na população em geral. Aconselhamos testes diagnósticos imediatos em caso de sintomas clínicos potencialmente relacionados ao monkeypox para evitar uma possível transmissão não detectada na comunidade. Defendemos a vacinação para contatos de alto risco para prevenir doenças potenciais e transmissão sucessiva”, escreveram os responsáveis pelo caso.
Duas crianças nos EUA
Na última sexta-feira, os EUA anunciaram dois casos em crianças. Embora as idades não sejam informadas, os CDC afirmaram que um dos diagnósticos é em um bebê de até três anos. Os casos não têm relação entre eles, sendo o mais novo localizado na Califórnia e o outro identificado em um paciente que não mora no país.
Ambos tiveram sintomas, mas estão bem e recebendo tratamento com antivirais. Os CDC recomendam os medicamentos para menores de oito anos por ser um público de maior risco para agravamento da doença. A entidade alertou ainda que qualquer pessoa pode ser contaminada pelo vírus por meio do contato pele com pele, o que, com crianças, inclui “segurar, acariciar, alimentar, bem como por meio de itens compartilhados, como toalhas, roupas de cama, copos e utensílios”.
O real número de diagnósticos na população pediátrica pode ser ainda maior que os relatados até então. Em entrevista coletiva no dia 29 de junho, a OMS já havia comunicado monitorar registros da doença em três crianças e adolescentes. Segundo a organização, todos os pacientes estavam com sintomas leves.
— Não temos casos severos, mas é um grupo que nos preocupa. Precisamos fazer o possível para controlar o surto — falou, à época, o gerente de incidentes da OMS, Abdi Mahamud.
Emergência internacional
Neste sábado, a OMS declarou a varíola dos macacos como emergência de saúde pública internacional, o nível máximo de alerta do órgão, atribuído também à Covid-19. O anúncio foi feito pelo diretor-geral, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em entrevista coletiva. A organização anunciou terem sido registradas 5 mortes e quase 17 mil casos em 75 países até o momento.
— Decidi declarar uma emergência de saúde pública de alcance internacional — disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmando que o risco no mundo é relativamente moderado, exceto na Europa, onde é alto.
No final de junho, o comitê de emergência da entidade havia decidido não atribuir ainda o status à varíola dos macacos. No entanto, frente ao aumento acelerado dos casos, a organização convocou uma segunda reunião na última semana. Como os membros do grupo não chegaram a um consenso, coube ao diretor-geral a decisão.
No Brasil, a última atualização do Ministério da Saúde, publicada na sexta-feira, mostrou que já são 696 registros da doença no país. A grande maioria, 506, são no Estado de São Paulo. Há ainda 102 diagnósticos no Rio de Janeiro; 33 em Minas Gerais; 14 em Goiás; 13 no Distrito Federal; 11 no Paraná; 3 no Rio Grande do Sul, na Bahia e em Pernambuco; 2 no Espírito Santo e no Ceará; e um no Mato Grosso do Sul e em Santa Catarina. Outras 336 suspeitas são monitoradas pela pasta.