Deputado alvo do Conselho de Ética convoca militância do MBL para defendê-lo durante sessão que pode aprovar a perda de seu mandato
Após passar por graves polêmicas neste início de ano, o deputado estadual Arthur do Val (União) convocou, para defendê-lo, a militância do Movimento Brasil Livre (MBL). A chamada é para que estejam em frente à Assembleia Legislativa de São Paulo, na tarde desta terça (12), durante sessão do Conselho de Ética que pode aprovar a perda de seu mandato em decorrência dos áudios sexistas vazados em março.
Em entrevista para um canal no YouTube ontem, Arthur do Val disse que seu mandato seria cassado, mas que “vai cair atirando”.
Segundo o MBL, a expectativa é que entre 100 e 200 pessoas se reúnam na Alesp para manifestar seu apoio ao deputado. Militantes de outras cidades, como Jundiaí e Campinas, também deverão marcar presença, segundo a organizadora da mobilização, Adelaide Oliveira.
— Eu vou ser cassado amanhã. Tem (grandes possibilidades). Então vou para cima e vou falar a minha versão. Mas se for para cair, vou cair atirando. Se cortarem a minha cabeça, vai nascer três no lugar. Isso (cassação) não é sobre quem eu falei, mas sobre quem eu sou — declarou em entrevista ao canal “Inteligência Ltda”, no YouTube.
Às 14h, a comissão de ética da Alesp vai votar se aprova ou não o parecer do relator Delegado Olim (PP), que pede a cassação do mandato de Do Val por quebra de decoro parlamentar. Se aprovada a punição mais severa, o caso será encaminhado ao plenário da Alesp, onde precisará ser confirmado por uma maioria simples dos 94 deputados da Casa. Nesse caso, Do Val deve perder os direitos políticos por oito anos, podendo voltar a disputar eleições somente a partir de 2032.
O deputado enfrenta 20 representações no conselho, assinadas por colegas da esquerda à direita após o vazamento de áudios em que ele faz declarações sexistas a respeito de refugiadas da guerra na Ucrânia.
Do Val, junto de Renan Santos, coordenador do MBL, viajaram para a Eslováquia em março. O objetivo, segundo eles, seria ajudar na luta contra os russos na Ucrânia. Do Val enviou quatro áudios num grupo de amigos no WhatsApp em que ele se mostra encantado com a beleza das mulheres locais, afirma que as ucranianas “são fáceis porque são pobres” e compara a fila de refugiadas da guerra à “melhor balada de São Paulo”.
Descrente em relação a uma rejeição do parecer de Olim, os aliados de Do Val tentam agora “reequilibrar as forças” e manifestar apoio ao deputado. Considerado um parlamentar isolado na Casa em razão dos atritos criados indiscriminadamente com os colegas, Do Val até o momento não recebeu solidariedade pública de nenhum deles.
Aliados de Do Val argumentam que, caso ele perca o mandato, o Conselho de Ética terá aplicado “dois pesos e duas medidas” para quebras de decoro na Casa. A crítica recai sobre a suspensão de seis meses dada a Fernando Cury, que foi flagrado apalpando o seio da colega Isa Penna (PCdoB) sem consentimento no plenário da Assembleia. O caso do Arthur, dizem, “por mais repugnante que seja”, não é criminoso.
— Tudo indica que vão cassá-lo, a não ser que alguém tenha ali uma luz. A gente vive no país da hipocrisia — disse Renato Battista, organizador da mobilização pró-Do Val desta tarde.
Adelaide Oliveira, vice de Do Val na disputa pela Prefeitura de São Paulo em 2020 e também organizadora da manifestação, calcula até 200 pessoas na Alesp nesta tarde. Mas ela diz não ter certeza da dimensão da mobilização por conta de uma “sacanagem” no formulário de inscrições disponibilizado virtualmente para ajudar a contabilizar o número de seguidores confirmados.
— Um espírito de porco esquerdista entrou lá e colocou um bot (robô) para destruir, xingar o Arthur. O bot fica gerando formulários e estragou a nossa estimativa — afirmou ela.